sábado, 30 de maio de 2009
ESCREVER POR ESCREVER...
Eu escrevo da mesma forma que um alcoólico bebe um copo. Ele bebe qualquer “zurrapa”. Eu escrevo sobre qualquer merda. Ele, desde que dê pancada na tola, bebe. Eu, desde que ocupe os dedos e a mente, escrevo. Onde, naquela forma de vida, vai conduzir aquele viciado? Sei lá, provavelmente ao cemitério. E a mim, esta forma de adictício, onde me leva? Sei lá! Provavelmente a uma qualquer consulta de psiquiatria.
Pode ser, in extreminis, que alguém próximo do alcoólatra, ou, pelo contrário de longe, repare nele, e, num simples pormenor, que até aí nunca ninguém houvera notado, diz para si: “o que se passará com este tipo? Ele é diferente. O que o teria empurrado para o cano?”
Vai daí, fazendo um contrato com o seu alter-ego, resolve fazer a acção da sua vida e tenta salvar aquela pobre alma errante que vagueia pelas margens da humanidade.
E eu, para me salvar desta consumição, o que preciso? Primeiro entender a minha necessidade de escrever. O que me move? Necessidade de notoriedade? Será como aquele estudante que, no meio da multidão, lança um cartaz no ar a dizer “mamã, estou aqui!". O que quero dizer, é que, no meio dos imbecis, eu quero ser um imbecil notado. Será isso? Ou será que, julgando-me mensageiro, interiorizando que tenho algo a transmitir aos vindouros, escrevo como missão? Talvez julgando-me um novo Moisés, pense que tenho de escrever os cinco livros do apocalipse e tenha de conduzir o meu povo (que povo?) até ao limiar da Terra Prometida –mas que Terra Prometida?-, e, se preciso for, dividir um mar ao meio. Bom se não conseguir um mar –o ideal era ser vermelho, para seguir as pisadas do Mestre-, pode até ser um pequeno lago. Tem é de ser qualquer coisa com água. Noutra impossibilidade, pode ser, por exemplo, de um balde com água, conseguir dividir o mesmo líquido por dois. É difícil, não é? Pois é. Lá isso é. Mas pode ser que eu consiga. Eu sou muito esforçado. Tem de ser qualquer coisa que possa, no futuro, vir a ser encarado como um feito extraordinário, um possível milagre.
Agora que estou a reflectir no meu caso, acho que não tenho mesmo salvação. Tenho mesmo de ir a correr para um psiquiatra. Mas qual? Se eu não acredito em nenhum? Ai! Acho que estou mesmo nas últimas. Ai, estou mesmo! Ou não estarei? Ainda consigo rir-me de mim próprio, se calhar ainda tenho uma pontita de salvação. Vou mas é falar com o alcoólico, e saber com o é que vai a sua vida…
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