quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

FIM DE VIDA DO ANO DE 2008






Hoje, dia 31 de Dezembro, é mesmo o fim do ano de 2008. Metaforicamente, pensemos que o tempo que agora acaba está em morte clínica. Os seus sinais vitais já não respondem. Nós, como amigos presentes na hora da despedida, estamos debruçados sobre o “ente” que está prestes a partir.
Muitos dos presentes no leito de morte, aparentemente pessimistas, com receio do que virá a suceder-lhe, parecem fazer tudo para reanimar os seus sinais vitais. Outros, mais realistas, como se tivessem mediunidade e, nos fluidos emergentes vissem o espírito do quase finado a flutuar por cima, querem acabar com este sofrimento depressa. Em surdina, clamam pela legalização da eutanásia. Outros ainda, estes como acusadores públicos, apregoam aos presentes que, à luz das convenções nacionais, pela desgraça criada, antes de morrer deveria ser julgado. Este 2008 deixou muita infelicidade e morte. Quantas pessoas, devido ao seu comportamento autista e insensível ao sofrimento, se suicidaram no país? Quanta dor causou na classe média-baixa? Tanta frustração espalhada ao longo do ano, sobretudo quando, por morte do antecedente 2007, deu a sensação de que iria ser muito melhor. E o que se viu? Dor, miséria e morte. Como político em campanha eleitoral, fez exactamente o contrário do que parecia auspiciar. Por isso, os justicialistas, mesmo no leito de morte deste acabado 2008, não lhe perdoam. Acham que, nestas circunstâncias, para este criminoso, a morte é o melhor que lhe pode acontecer. “Deverias padecer, maldito sejas ó 8 depois de 2000! Já que não podemos impedir a tua morte, ao menos, apodrece no inferno, ano do demo”, exclamam furibundos os desesperados de justiça.
Outros do imenso grupo, presentes na despedida do dois, zero, zero, oito, mais optimistas, tentam acalmar os pessimistas e os justicialistas, e, em tom paternalista, tentam convence-los de que vale a pena aguardar o próximo. “Quem sabe como será? –exclamam, aos gritos para serem ouvidos. “Deixemos morrer este em paz, e que o seu espírito não venha “encostar-se” ao vindouro. Tenhamos esperança no “novo” ano que vem aí”.
-Mas tu não ouves as notícias, ó optimista?, isto está muito mau! –interrompe um dos pessimistas.
-Claro que ouço, como todos vocês, mas, com este discurso negro apregoado e multiplicado até ao infinito, ainda me dá mais força para acreditar que estamos apenas a atravessar um deserto, e, como sabem, tudo é finito, logo, naturalmente, iremos encontrar um oásis para nos refrescarmos desta secura – replica o optimista.
-Eu gostava de ser como tu…”felizes, aqueles que acreditam”…-teima o pessimista –mas só se vê miséria em todo o lado…isto está muito mau! -(é interrompido pelo toque do telemóvel)-…estou, sim sou eu! Sim, claro que está combinado, vou sair dentro de uma hora (…) encontramo-nos no hall do hotel às 20 horas. Até logo.
Seguidamente, despede-se dos presentes com “um bom ano de 2009 para todos”.

sábado, 27 de dezembro de 2008

UM CHUMBO NA ORTODOXIA LABORAL



Em Portugal, habituámo-nos a aceitar as decisões institucionais como dogmas inquestionáveis, axiomas, verdades sem contestação. E se estas instituições estiverem erradas? E se a sua composição estiver viciada ideologicamente, poderão as suas deliberações serem isentas na procura do bem comum?
Podemos interrogar, em tempo de crise de valores e princípios, porque há-de a doutrina ideológica, assente numa cúpula, defender, petrificada e acerrimamente, os paradigmas sociais que, paradoxalmente, nada têm a ver com os dias que vivemos, e comportar-se como um elefante numa loja de porcelanas?
Como certamente já viram estou a escrever sobre o recente chumbo do Tribunal Constitucional sobre o alargamento do período experimental para a generalidade dos trabalhadores de 90 para 180 dias.
Metaforicamente, e, sem ofensa, perdoem-me os visados, o estúpido exemplo a que vou recorrer: faz-me lembrar as Testemunhas de Jeová deixarem morrer um seu membro porque, por princípio, são contra as transfusões de sangue. A sociedade se, por um lado, não deve perder de vista os seus valores e princípios –eles serão os fios condutores da nossa fundamentação e orientação na nossa forma de agir- por outro, se não tivermos em conta a dinâmica da vida, considerando-os eternamente estáticos e petrificados além-tempo, tornando-nos escravos deles, passamos a ser marionetas dessa mesma doutrina ou de quem a apregoar. Os valores e princípios –não são a mesma coisa: por analogia, os “valores” serão os vasos sanguíneos, e os “princípios” serão as artérias principais no corpo humano- deverão ser como a cultura, vão mudando conforme o tempo vai passando, embora, diga-se, a propósito, que os princípios são mais arreigados à comunidade e, por isso mesmo, mais difíceis de mudar.
Voltando ao veto do Tribunal Constitucional, a larga ovação de toda a classe política, ainda que de forma hipócrita, sobretudo o partido da oposição (o PSD), de todos os sindicatos, e ainda da maioria das associações patronais, exceptuando a CIP, Confederação da Indústria Portuguesa, todos bateram palmas à medida daquele órgão de soberania.
O que será melhor para o país, será continuar a manter pessoas sem trabalho, sem nada ganharem, ou, pelo contrário, mesmo a título precário, durante seis meses, terem ocupação? Porque será que se tem tanto medo do trabalho flexibilizado? Será porque se a lei se tornar mais dinâmica e extensível à “praxis”, o que passa a contar é a dedicação e o esforço que cada um desenvolve em prol da empresa onde labora?
O que acho estranho é todas as correntes políticas centro-direita estarem de acordo de que a nossa legislação laboral, pese o esforço deste governo de a dinamizar, é estática e antiquada e condutora de mais desemprego pelo elevado proteccionismo, porquanto essa mesma protecção concorre para o desinteresse, o abstencionismo e a falta de produtividade do empregado, e, perante este chumbo do Tribunal Constitucional todos mostrarem um sorriso de hiena.
O grave é a falta de visão, de uns, que exercendo clausulas-barreiras, condicionam o futuro de uma sociedade, sem ter em conta que vivemos no século XXI, um tempo pragmático, que não se contenta com orientações do passado, e de outros, que, sabendo que só defendendo o indefensável, através da manipulação colectiva, continuarão a existir.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

FELIZ NATAL





Dito assim, parece mais uma mensagem circunstancial igual a tantas outras. Bolas!, mas não é isso que eu quero. Vocês, leitores deste blogue, que têm tido a paciência de ler o que eu escrevo, merecem mais do que uma simples mensagem do tipo: toma lá e vai-te embora. Não é esse tipo de “encomenda” que vos quero entregar.
Tenho que dizer duas coisas em relação ao Natal. Por um lado, não gosto deste período. É um tempo triste e depressivo. Psicologicamente tem uma explicação, sei o motivo porque não gosto, mas não vos vou contar, que isso, para aqui, é irrelevante.
Socialmente, este tempo “santo”, para mim, deixa algo a desejar. É o Dezembro do “feliz Natal”, quase por obrigação recíproca. A prendinha dada quase da mesma forma. É a preocupação a termo certo com os mais pobres e carenciados. É como se durante este mês caísse uma nuvem social de boa vontade e depois, quando ela desaparece, lá para Janeiro, tudo volta à normalidade. Não queria ser demasiado duro, mas é um tempo que tem acoplado muita hipocrisia.
Mas uma coisa é certa, mesmo retirando toda esta carga nublada, acho que o Natal, igualmente a outras datas que pretendem chamar a atenção, são importantes. Ainda que durante pouco tempo, como bandeira de armistício, salienta o que de melhor existe dentro de nós: a paz, a solidariedade, a bondade, o respeito pelo outro e a preocupação social.
Quando tenho dúvidas em relação a qualquer coisa, tenho por costume fazer a aferição entre o mal maior e o mal menor. É assim uma espécie de balançar entre custos e proveitos. Quando chego à conclusão de que o mal menor é a opção, como quem diz, que os proveitos para a sociedade são maiores que os prejuízos (custos) não tenho nenhuma dúvida em embarcar no mesmo cruzeiro social. E é o que penso em relação ao Natal, mesmo com todas as premissas que enunciei, e na impossibilidade de o prolongar, é bom existir um Natal por ano.
Boas festas a todos e muito obrigados pela pachorra que têm tido ao “visitar-me” diariamente. O meu sincero obrigado, e, neste tempo de tristeza económica, em que parece não haver luz no horizonte, façam os possíveis por serem felizes e não percam a esperança. Não esqueçam que o sol todos os dias nasce. Nos momentos mais tristes pensem nos passarinhos, que nada tendo materialmente, continuam no seu chilrear de alegria. Sorriam o mais que puderem, por enquanto não paga imposto.
Um grande e apertado abraço a todos.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Parabéns Paco



Único!
Parabéns Paco de Lucia pelo 61º aniversário!

sábado, 20 de dezembro de 2008

A LOJA TRADICIONAL E A CRISE QUE ANDA NO AR




Nos dias que correm só se ouve falar da crise económica e das suas consequências. No que se vê e ouve, esta recessão (ou depressão), metaforicamente, é assim uma espécie de basófias –assim era designado o rio Mondego no tempo das grandes cheias- nos seus velhos tempos de grandes enchentes em que a força das águas levava tudo à frente. Só quem estava mais preparado, pelo costume dos anos antecedentes, pondo a salvo os seus haveres, transferindo-os para zonas altas, conseguia fazer face à intempérie da natureza. Claro que muito se perdia e, depois da tempestade vinha a bonança, isto é, segundo as crenças populares, os campos do Mondego ficavam muito mais fertilizados e produtivos. Há quem diga que a degeneração destes celeiros agrícolas, conjuntamente com o abandono dos campos, ocorreram também devido ao “desvio da natureza”, sobretudo, depois da construção da barragem da Aguieira e do controlo do caudal do rio. Claro que, por volta dos anos de 1960, com as ruas completamente alagadas, havia sempre alguém a espreitar o furo, como quem diz, ganhar dinheiro à custa de uma nova necessidade criada em torno da locomoção. Era assim que surgiam sempre, por esta altura, os barqueiros a transportar as pessoas de uma rua para um qualquer largo na zona da Baixa.
Por analogia, se hoje nesta crise continuam a haver alguns “barqueiros”, no dia-a-dia, há muito mais colectivamente. Ou seja, o consumidor, sempre atento às notícias, que duma forma obsessiva matraqueia o mais duro de ouvido, aproveitando bem esta maré depressiva, está transformado num sádico empedernido, que, sem peias de sensibilidade, não se importa de “calcar” um qualquer vendedor.
Então no comércio tradicional é de mais. Como as notícias que se ouvem, de que o comércio está muito mal e em desaparecimento, o comportamento do consumidor, nos pequenos estabelecimentos, hipoteticamente, tem o mesmo efeito devastador de um conhecimento prévio no Japão, antes de serem largadas as bombas atómicas: vender antes que desapareça tudo. Alguns clientes do comércio de rua, entram numa loja, e sem disfarçar, olham para o comerciante como o coitadinho, o indigente futurista. Chegam a perguntar, num tom de voz misturado entre a “caridadezinha” e o sádico: “o senhor não vende nada, pois não? “. Para logo a seguir, interessando-se por um qualquer artigo, oferecer metade do que estiver marcado e rematar: “sabe que não há dinheiro, isto está muito mau?!”. Como se o profissional do comércio de rua não soubesse como está a economia. Há casos pouco agradáveis de descrever. E se o conto aqui é porque tenho conversado com comerciantes que me dizem exactamente a mesma coisa. “Às vezes tenho mesmo de ser desagradável. Tenho de dizer que para hoje ainda tenho para o jantar, volte amanhã, porque pode ser que, nessa altura, esteja mesmo cheio de fome e, nesse caso, já vendo a qualquer preço “, exemplifica um comerciante.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

DEPOIS DO FALHANÇO DE FRIEDMAN, KEYNES SERÁ RESSUSCITADO?



Antes de começar este texto, como declaração de interesses, ressalvo que não percebo nada de economia. Claro que você pode interrogar-se: “e quem percebe?”. Então e eu sei lá?! Quanto a responder por mim isso posso: tento compreender, investigando, mas não sei nada. Claro que pode voltar a interrogar: mas se não percebe porque escreve? Olhe, porque tenho de escrever alguma coisa e, afinal, se outros, que dizem perceber, não acertam “uma para a caixa”, quem sabe se eu não percebendo mesmo nada, numa espécie de lotaria, possa acertar em qualquer coisa? No mínimo vou voando sobre o ninho da economia.
Claro que você já está a perguntar-se: mas afinal o que quer este tipo? Calma!, eu vou já directo ao assunto que me trouxe até aqui.
Ontem o Jornal Público publicava um a longa carta, com data de 20 de Novembro, de Paul Krugman, prémio Nobel da Economia 2008. O que achei mais interessante foi a sua acérrima defesa das teorias de John Maynard Keynes. Como se sabe este brilhante economista inglês (1883-1946) esteve por detrás da recuperação económica dos Estados Unidos, aquando da “grande depressão” de 1929, através de uma série de programas económicos (New Deal –Novo Acordo) entre 1933 e 1937. Contrário às teorias de “laissez faire, laissez passez” (deixai fazer, deixai passar), de Adam Smith e David Ricardo, que defendiam a auto-regulação do mercado pelo próprio mercado e a favor do mercado livre nas trocas comerciais e contra o proteccionismo, ou seja, as bases do liberalismo económico, Keynes defendia a intervenção do Estado no relançamento da economia, através de grandes obras públicas, com implicações directas no emprego (Teoria Geral do Emprego, juro e moeda, de 1936).
Voltando ao Público de ontem e a Krugman, dizia então o laureado pelo Nobel de 2008 que “o que o mundo precisa neste momento é de uma operação de salvamento. (…) e para conseguir isto, os decisores políticos à volta do globo têm de fazer duas coisas: colocar de novo o crédito a circular e estimular o consumo. (…) o que está por trás das restrições ao crédito é uma combinação de pouca confiança e capital pulverizado nas instituições financeiras. As pessoas e as instituições, incluindo as financeiras, só querem lidar com quem tenha um capital substancial para garantir os seus compromissos, mas a crise esgotou o capital em toda a parte. A solução óbvia é injectar mais capital. (…) em 1933, a administração Roosevelt usou a companhia de Reconstrução Financeira para recapitalizar os bancos, comprando acções preferenciais (…). Em todos estes casos a cedência de capital ajudou a restaurar a capacidade dos bancos para efectuar empréstimos e desbloqueou os mercados de crédito.”
Continuando a citar Krugman, “(...) O próximo plano deve concentrar-se em manter e expandir os gastos governamentais –manter através de ajudas às administrações locais e estatais, expandir com gastos em estradas, pontes e outros tipos de infra-estruturas. (…) Se a despesa pública for estimulada a uma velocidade razoável, deverá chegar muito a tempo de ajudar –e tem duas grandes vantagens relativamente a benefícios fiscais. Por um lado, o dinheiro seria efectivamente gasto; por outro, algo de valor (por exemplo, pontes que não caiam) seria criado. (…) A fase definidora da economia é suposto ser “Não há almoços grátis “; quer dizer que os recursos são limitados, que para termos mais de uma coisa temos de aceitar menos de outra, que não há ganho sem sofrimento. No entanto, a economia de depressão é o estudo de situações em que existe um almoço grátis, se conseguirmos perceber como pôr as mãos em cima dele, porque existem recursos ainda não utilizados que podem ser postos em acção. A verdadeira pobreza no mundo de Keynes –e no nosso- era assim, não de recursos, ou mesmo de virtudes, mas sim de compreensão. (…) Há quem diga que os nossos problemas económicos são estruturais, sem possível cura rápida; mas eu acredito que os únicos obstáculos estruturais importantes para a prosperidade mundial são obsoletas doutrinas que confundem as mentes dos homens”.
Certamente já viu porque publiquei extractos da carta do grande economista. Como sabe esta é a teoria económica defendida pelo Primeiro-Ministro José Sócrates para o nosso país, isto é, relançar a economia através de grandes obras públicas, tais como o TGV, o aeroporto, construção de novas auto-estradas e também o relançamento do consumo pelas famílias –que, a propósito, não se sente- com o apoio aos bancos em grandes operações financeiras.
Depois de ouvirmos Medina Carreira, no programa da SIC Notícias, dizer que ressuscitar as teorias económicas de Keynes em Portugal era um verdadeiro disparate, tendo em conta que somos um país que se abastece no estrangeiro e que não é auto-sustentável. Disse ainda (com muita lógica) que se se relançar o consumo das famílias através da injecção de crédito, para além da inflação disparar, a receita gerada vai direitinha para os nossos fornecedores além-fronteiras.
Depois da “morte” recente e enterrada das teorias económicas neo-liberais de Milton Friedman, quem tem razão? Eu cá não sei. Limitei-me a transcrever as opiniões de quem diz saber, porque, se calhar, você está tão perdido nestes labirintos como eu. Apenas tentei acender um fósforo nesta noite escura.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

UM PENSAMENTO EM FORMA DE ESPECULAÇÃO




“Preferimos a pobreza em liberdade à riqueza na escravidão” –Ahmed Sékou Touré, primeiro presidente da República da Guiné ( 1922-1984).
Especulando sobre esta frase, que diz muito sobre o homem enquanto ser antropológico, exactamente porque, contrariando o que se esperava de um poeta e pensador, Sékou Touré depois de levar a República da Guiné à independência, cortando os elos coloniais que a ligavam à França em 1958, tornou-se um ditador de partido único, numa economia socialista, e intolerante a direitos humanos, nomeadamente às liberdades de expressão e oposição política. Mandou prender milhares de opositores em prisões parecidas com os “Gulags” soviéticos, onde centenas de pessoas perderam a vida.
Mas vou-me deslocar um pouco da imprevisibilidade do “ser” antropológico e pegando na frase, com uma diferença de quatro décadas, vou desviar-me e à luz dos nossos dias, no materialismo consumista que conhecemos, vou tentar dissecar filosoficamente o objecto que lhe está subjacente, ou seja, a liberdade como “prius” acima de toda a riqueza.
Hoje, para os jovens aquela frase faz algum sentido? Preferir a liberdade em detrimento da riqueza e do bem-estar? Estou convencido que não. Só se dá valor a algo que durante um tempo a sua inexistência contribuiu para a nossa infelicidade. Ou, pelo contrário, algo que fazia parte da nossa felicidade e se perdeu. Essa lacuna, quanto maior foi a sua marca na nossa vida, intrinsecamente, mais valor lhe damos, empiricamente, ao longo da nossa existência.
E a ser assim, é evidente que se os nossos filhos já nasceram neste berço de liberdade, encarando-a como um valor fundamental, mas, ao mesmo tempo, desvalorizando-o e tomando-o como um direito adquirido. Continuando o mesmo raciocínio, não admira, é lógico, que, à luz da sua experiência de vida, troquem a riqueza material pelo abstracto valor liberdade. Reparemos, e voltando um pouco atrás, Sekou Touré, há 50 anos, fez exactamente a mesma coisa. Enquanto sentia na carne a discriminação e a segregação de ser negro lutava e pugnava pela liberdade, a partir do momento em que a conquistou arrumou-a na gaveta, subalternizando-a, inverteu a filosofia da frase que lhe deu notoriedade, e tornou-se um materialista ditador comunista.
Claro que, sociologicamente, poderemos especular que, no fundo, só procuramos o que não temos e que a partir do momento em que vemos saciado o nosso desejo passamos a concentrar a nossa atenção noutros objectivos. Poderemos também pensar que o homem será mais rico ideologicamente quanto menos tiver materialmente. Já dizia Adam Smith, no século XVIII, que toda a propriedade corrompe.
Talvez lendo Alexis de Tocqueville (1805-1859) se entenda melhor o “novo” homem democrático e a procura quase obsessiva pelo materialismo quando afirma: “os povos democráticos querem a igualdade (material) na liberdade e, se não a puderem obter, ainda a querem na escravidão”. Diz-nos, em suma que a ambição é um sentimento universal. Assim como nos mostra que o Estado se organiza para promover e estimular o progresso material, nivelando a riqueza através da distribuição, tentando erradicar a miséria, e “democratizar” o bem-estar ao maior número de cidadãos.
E para terminar, no limite, poderemos pensar que, perante este consumismo exacerbado, estaremos numa nova forma de ditadura materialista, criada e pensada pelos governantes hodiernos para nos tornarem assépticos à ideologia e à procura de um mundo melhor…desmaterializado.

PARA A POSTERIDADE


quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

E A GRÉCIA AQUI TÃO PERTO



O que se está a passar na Grécia deveria fazer pensar todos os membros da União Europeia e muito em particular o nosso país. Segundo o Jornal Público de hoje, em que na capital, Atenas, para além de pilhagens, foram destruídos 49 edifícios de escritórios, 47 lojas, 14 sucursais de bancos e 20 carros. Nas últimas horas o presidente da Câmara de Atenas já veio anunciar que tinham sido destruídas entre 360 a 370 lojas. “Os tumultos foram desencadeados pela morte de Grigoropoulos (um jovem de 15 anos atingido no sábado mortalmente pela polícia, depois do adolescente, num grupo de mais de 30, ter atacado o carro das forças da ordem), mas têm a sua origem no desemprego, que é de 8 por cento e tende a aumentar, na inflação elevada, na corrupção ou na falta de perspectivas para os mais jovens”.
Continuando a citar o jornal, “a violência alastrou a várias cidades (gregas). (…) líderes políticos e sindicais (…) acusaram o Governo de ter promovido reformas que pioram as condições de vida para “um quinto dos gregos que vive na pobreza”.
“Os quatro dias de violentos motins nas maiores cidades da Grécia, (…) expõem a nu as fragilidades de um país plenamente integrado na União Europeia que vive assolado pela falta de perspectivas de futuro entre os jovens. (…) Sinalizam a profunda tensão social no país onde um em cada cinco trabalhadores vive abaixo da linha de pobreza, de acordo com as estatísticas governamentais. À sensação de cerco generalizado nos jovens –insegurança económica, desemprego, baixos salários- acresce uma profunda desilusão em relação à política de privatizações e à reforma do sistema de pensões seguida pelo governo (…) “
“Entre uns e outros, milhares de jovens têm destilado a sua raiva nas principais cidades gregas. (…) “porque não toleramos mais este governo (…) temos 25 anos, terminámos os estudos, não temos dinheiro e só nos resta partir para o estrangeiro”, afirmou uma recém-licenciada em Sociologia de 25 anos. Porque “há toda uma geração que vê os seus pais endividados até aos dentes e que sente que o futuro não lhes vai trazer nada de bom”, explicou ao “Guardian” Christos Mazanitis, um jornalista de Atenas. “Estes motins são sobre o medo e o desespero”, concluiu o jornalista.
Continuando a citar o Jornal Público, “Theo Livanios, um analista do Instituto de sondagens Opinion, considera que (…) há uma explosão de cólera da juventude contra a polícia que, tal como o Estado, não é vista como uma instituição que trabalha para o bem comum “.
(…) “a falta de investimento em sectores chave como a educação ou a saúde, a degradação dos subúrbios e o autismo de um poder que “não percebe os verdadeiros problemas das pessoas”, como se apressou a sublinhar George Papandreau, o líder do Pasok, o maior partido da oposição”.
“Thomas Siozos, à frente da sua loja vandalizada, disse à Reuters: “tenho 73 anos e nunca vi nada assim. A morte do rapaz foi uma desculpa. O Governo não pode cuidar apenas dos ricos”.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Música de Natal

Já não posso ouvir música de Natal!!!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

UMA FOLHA CAÍDA NO NATAL



É Dezembro…
uma folha cai…lentamente…
ziguezagueia por entre a amálgama de gente,
gente apressada, escrava do tempo,
insatisfeita, faces duras sem contento,
pisam a folha, alinhados em parada, com tacões,
ecoam na calçada…como centuriões;
As pedras vibram, com tanta precisão,
uma pedrinha solta-se na multidão,
alguém a pontapeia, ao acaso, em estopada,
ela rolando, por ali, vai sendo pontapeada;
O vento sopra, cortante, e a folha voa,
e de cima, olha para baixo, vê à toa,
este exército mal ordenado,
como se estivesse condenado,
a andar, andar, sem se render,
mesmo sabendo que vai morrer;
E de novo a folha cai…lentamente…
Um louco ri sozinho…desalmadamente,
pega na folha, com carinho, o anormal,
afaga-a com a mão, como se fosse um pardal,
faz caretas, gesticula, dança ao vento com nobreza,
embala a folha, dá-lhe beijos, filha da natureza,
nem o frio, a refrear o ímpeto, lhe faz mal;
Ele sabe que é festa, não sabe que é natal,
não sente a solidão, não conhece abraços,
não sabe a razão de tantos laços,
tantos sacos e sacas enfeitadas,
tantas almas embrulhadas,
tanto amor materializado,
tanto calor humano…desperdiçado;
Entre o dever e o ser,
não é gente sem…o ter;
E a folha…lentamente,
nos braços de um demente,
sorri…para a turba disforme,
e pensa a folha, se eu falasse…uma frase conforme,
mesmo com a voz do tonto rouco,
gritaria em altos berros: AFINAL QUEM É O LOUCO??!

CARTA AO MENINO JESUS



Não preciso de te dizer quem sou. Tu conheces-me bem. Deves saber que nos últimos dias, deste começo de Dezembro, tenho travado contigo grandes monólogos. Sim, monólogos, porque nunca me respondes. Talvez porque entenda que deves ter muitos meninos como eu a pedir-te coisas, e deva ser-te difícil identificar todos, vou ajudar-te: sou aquele miúdo de onze anos, que mora nos arredores da cidade –já estás a ver, não estás?
Diz-me, Menino, porque nunca me respondes, e me obrigas a contactar-te por carta? É por eu, nos últimos tempos, me ter tornado agressivo na escola? Se é por isso, até tens razão, os stôres nem merecem, até são bué de fixes. Mesmo com os problemas deles, com essa coisa da avaliação, a verdade é que estão sempre preocupados comigo. Ou tem a ver com o facto de eu me tornar cada vez mais fechado e triste? Que queres, não tenho alegria?! Ou será por este ano, lá em casa, ninguém fazer o presépio e tu continuares arrumado no baú da entrada? Também sabes que eu não posso fazer nada. Aquela minha casa, outrora um jardim florido, hoje está transformada num campo de batalha entre os meus pais.
Apesar de tudo isto, sabes muito bem que sempre que posso abro a arca, pego-te ao colo e falo contigo. Sabes que és o meu melhor amigo mais porreiro? Então porque nunca me respondes? Por muito menos cortei com o Outro. Sim, esse! Estamos a falar de Deus. Andei tantos anos na catequese, procurei ser sempre cumpridor das minhas obrigações para com Ele. Conforme as recomendações do senhor padre eu ia sempre à missa e até ajudava no ofertório. Fazia tudo direitinho para ser um bom menino. Quando a minha vizinha, a Dona Ermelinda, aquela velhota da porta ao lado, do 31, queria atravessar a rua eu sempre fui a correr para ajudá-la. Pois! Mas quando eu precisei Dele não me ligou nenhuma. Tanto lhe pedi que ajudasse os meus pais e os mantivesse unidos. Lá se importou Ele com os meus pedidos e que eles se tivessem divorciado há menos de meio ano! Não mexeu uma palha!
Agora, lá em casa, é a bagunça que tu sabes. Mas vais ajudar-me, não vais Menino? Vais fazer regressar a paz à minha casa, não vais? És a única esperança que me resta. Se fizeres como o Outro não sei o que farei. Eu já não aguento mais. Reparaste há dias o que aconteceu quando o meu pai, para provocar, levou lá a casa a sua nova namorada? Viste o que fez a minha mãe? Embrulharam-se as duas à pancada, veio a polícia, foi um escândalo lá na rua. Mas, vê lá, se isto dos meus pais, depois de divorciados, ficarem a morar na mesma casa faz algum sentido?! Ainda por cima com o argumento de que ambos ficavam a cuidar da minha educação, enquanto mais novo, porque os meus dois outros irmãos já se desenrascam bem.
Uma treta, amigão! Eles nunca quiseram divorciar-se e então, quando viram que o processo da papelada já era irreversível, jogaram então com a minha educação para os manter juntos de coração.
Ajuda-me a compreender estes adultos. Estiveram casados 22 anos. Sempre se amaram e deram bem, de repente, como aquele terramoto que varreu a Ásia, tudo se alterou. Tudo ficou de patas para o ar. Faço tantas vezes a pergunta: o que aconteceu para duas pessoas que mal respiravam uma sem a outra se tornarem inimigas? Se calhar fui eu o culpado. Tantas vezes penso nisso, Menino! E para mais, agora que estão desavindos, chegam a parecer que não gostam de mim. A minha mãe nunca mais me deu beijinhos quando vou para a cama e o meu pai também não, porque nunca está em casa a essa hora.
Não encontro explicação. Há dias vi um programa na televisão –sei o que vais dizer: que eu passo muitas horas na televisão e no computador, mas que queres, são a minha companhia?! –que dizia que os adultos depois dos quarenta anos, julgando-se velhos precoces, querem fazer tudo aquilo que não puderam fazer. Será isso?
Faço tanta pergunta e não tenho nenhuma resposta. Nunca houve lá em casa aquela coisa de que tanto se fala: a violência doméstica. Pelo menos até há poucos meses eu não sabia o que era isso. Agora conheço-a bem demais: veio atrasada, mas com juros. Começam por se agredir em palavras e depois vem a pancada. Mas, para o caso, tanto é um como outro, são iguais.
Mas uma coisa sei, Menino: eles amam-se e precisam tanto um do outro! Só um milagre pode evitar que se destruam mutuamente, e, como bola de pingue-pongue, me arrastem com eles.
Será que podes ajudá-los? Se o fizeres, palavra de honra, prometo-te que farei as pazes com o teu Pai.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

"SE CÁ NEVASSE FAZIA-SE CÁ SKI"



A contrariar “os Salada de Frutas”, em 1981, com a inauguração, há minutos, na Praça do Comércio, prova-se que sem nevar é possível fazer ski numa pista artificial. Uma boa iniciativa da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, que visa trazer mais pessoas, quer da cidade para a Baixa, quer de zonas limítrofes a Coimbra.
Venham e tragam as crianças. A pista estará aberta todos os dias entre as 9h30 e as 23 horas, excepto aos domingos em que o horário será das 11h00 às 23h00. Isto durante todo o mês de Dezembro. Venha daí…

Aí Manuela... Manuela....

"HOMEM LOBO DO HOMEM"




O título foi furtado ao empirista Thomas Hobes (1578-1679). Lembrei-me desta designação, e da filosofia que lhe está subjacente do grande materialista inglês, ao constatar hoje, aqui na Baixa, um peditório para uma associação de apoio a ex-tóxicodependentes. Vou então contar a história:
O homem, de trinta e poucos anos, bem vestido, mas com uma aura que o tornava diferente, entrou-me pela loja adentro. Era uma daquelas pessoas que olhamos e a primeira impressão diz-nos muito sem dizer nada. O indivíduo trazia ao peito uma lata redonda, com uma pequena ranhura para introduzir moedas e notas. Trazia também ao peito um cartão identificativo da Associação “A Arca da Vida”. Embora tivesse fotografia o cartão era um pouco tosco. Na mão, um pequeno cesto de vime, com alguns laços de fita vermelha –identificativos com a sida. Junto a estes laços, imensas moedas e notas de 5 euros.
A primeira impressão que tive foi a de que estava a ser burlado: das duas uma ou o homem não representava nenhuma associação com aquela sigla ou então, pelo contrário, representava mesmo, mas havia ali marosca. E, neste caso, o fulano estava a burlar a associação que o abrigou e lhe deu apoio. E como?! É simples: os óbolos que entravam na lata redonda, que estrategicamente estava colocada atrás, iam para a “A Arca da Vida”, as pequenas dádivas colocadas no cesto de vime iam para “a vida da arca” do sujeito. Claro que ele fazia tudo para que as pessoas utilizassem o cesto.
Depois de descobrir o número de telefone da sede da “Arca da Vida”, na Maia, fiquei a saber que este peditório estava regulamentado e pertencia a uma dependência de Mira. Lá falei, telefonicamente, com o responsável que ficou de boca-aberta: “o quê? Esse sujeito anda a fazer isso? E as pessoas, não vêem que ao colocar no cesto as moedas estão a contribuir para uma fraude?! Muito obrigado, muito obrigado, vou já tratar disso, porque estou aqui em Coimbra”.

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Já depois de escrever este texto acima, fui informado de que o “lacinho vermelho” é exclusivo da Liga Portuguesa Contra a Sida (LPCS). Vai daí, hoje, liguei para a sede em Lisboa e fiquei a saber várias coisas:
A primeira é que a LPCS normalmente não faz peditórios a nível nacional. Quanto muito fá-los localizados e quase sempre em Lisboa;
A segunda informação que obtive, e esta já calculava, é que todos os que, como eu, contribuíram foram burlados. Nem esta Associação “Arca da Vida”, nem outra qualquer instituição está autorizada a “utilizar” o nome da LPCS;
A terceira informação, em forma de constatação, é que esta instituição da Maia e com ramificações em Mira, para além de poder ser acusada de fraude (perante os transeuntes anónimos) pode também ser acusada de abuso de confiança e apropriação ilícita de simbolo, visando o enriquecimento;
A quarta informação, e aqui não deixa de ser curioso, reparem na burla em cadeia: “A Arca da Vida” começa por vigarizar a LPCS utilizando os anónimos cidadãos; a seguir os membros daquela associação, para além de materialmente burlarem as pessoas de boa vontade, enganam também a empresa a que pertencem;
E por último, a título de prémio particular, talvez pelo esforço desenvolvido, o gerente da instituição de Mira, numa forma teatral e magistral, através do telefone, engana-me a mim.
Sem “pinta” de modéstia o título de “homem lobo do homem” foi mesmo feliz. É por estas e outras que cada vez mais as pessoas ficam descrentes e “frias” perante, muitas vezes, a desgraça alheia.

BOLA DE CRISTAL




A PEDIDO DE AMIGOS (E FUTUROS CLIENTES), DEPOIS DE CONSULTAR A BOLA DE CRISTAL, VOU RESPONDER A DUAS PERGUNTAS FORMULADAS:

1ª-CAVACO SILVA VAI SER REELEITO EM 2011?

2ª-EM CASO NEGATIVO, QUEM VAI SER O PRÓXIMO
PRESIDENTE?

EIS AS RESPOSTAS:

1ª-ANÍBAL CAVACO SILVA, ELEITO EM MARÇO DE 2006, COMO O 18º PRESIDENTE DA REPÚBLICA PORTUGUESA, CONTRARIAMENTE AOS SEUS ANTECESSORES –QUE TODOS FORAM REELEITOS PARA O SEGUNDO MANDATO- NÃO VOLTARÁ A PRESIDENCIAR O PAÍS;

2ª-O PRÓXIMO PRESIDENTE DA REPÚBLICA SERÁ MANUEL ALEGRE. CONSEGUINDO REALIZAR UM VELHO SONHO, ESTA PROEZA SÓ FOI POSSÍVEL GRAÇAS “AO VENTO QUE PASSA”, QUE, ATÉ AQUI, EM CONLUIO, “CALOU A DESGRAÇA” EM “NOTÍCIAS DO MEU PAÍS”.
ENTÃO, “O VENTO QUE PASSA”, FARTO DE SOPRAR VENTOS CONTRÁRIOS, VENDO “MINHA PÁTRIA PREGADA NOS BRAÇOS EM CRUZ DO POVO”, REUNIFICOU A ESQUERDA EM TORNO DA SUA CANDIDATURA, E EIS ENTÃO O 19º PRESIDENTE DA REPÚBLICA PORTUGUESA.

UMA CONVERSA "PÉ-DE-ORELHA"

(FOTO MIGUEL A. LOPES/LUSA)

Mário Nogueira para Manuel Carvalho da Silva, durante o XVIII Congresso Nacional do PCP: “Ó Pá!, não achas estranho este unanimismo? ...98%?! Temos de fazer qualquer coisa! Este “gajo” (Jerónimo de Sousa), a discursar, parece o Sócrates. Temos de abrir fissuras, camarada, senão, por este andar, morremos de velhice sem chegarmos a líder e nunca mais lhe tiramos o poder. Sabes muito bem, camarada, que o poder corrompe, e este “gajo”, no apego ao poder, está conspurcado pela força capitalista. Olha como ele discursa, olha a pose. Temos de fazer qualquer coisa! Tu tratas da cintura de Lisboa que eu me encarrego do centro”.