quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

FIM DE VIDA DO ANO DE 2008






Hoje, dia 31 de Dezembro, é mesmo o fim do ano de 2008. Metaforicamente, pensemos que o tempo que agora acaba está em morte clínica. Os seus sinais vitais já não respondem. Nós, como amigos presentes na hora da despedida, estamos debruçados sobre o “ente” que está prestes a partir.
Muitos dos presentes no leito de morte, aparentemente pessimistas, com receio do que virá a suceder-lhe, parecem fazer tudo para reanimar os seus sinais vitais. Outros, mais realistas, como se tivessem mediunidade e, nos fluidos emergentes vissem o espírito do quase finado a flutuar por cima, querem acabar com este sofrimento depressa. Em surdina, clamam pela legalização da eutanásia. Outros ainda, estes como acusadores públicos, apregoam aos presentes que, à luz das convenções nacionais, pela desgraça criada, antes de morrer deveria ser julgado. Este 2008 deixou muita infelicidade e morte. Quantas pessoas, devido ao seu comportamento autista e insensível ao sofrimento, se suicidaram no país? Quanta dor causou na classe média-baixa? Tanta frustração espalhada ao longo do ano, sobretudo quando, por morte do antecedente 2007, deu a sensação de que iria ser muito melhor. E o que se viu? Dor, miséria e morte. Como político em campanha eleitoral, fez exactamente o contrário do que parecia auspiciar. Por isso, os justicialistas, mesmo no leito de morte deste acabado 2008, não lhe perdoam. Acham que, nestas circunstâncias, para este criminoso, a morte é o melhor que lhe pode acontecer. “Deverias padecer, maldito sejas ó 8 depois de 2000! Já que não podemos impedir a tua morte, ao menos, apodrece no inferno, ano do demo”, exclamam furibundos os desesperados de justiça.
Outros do imenso grupo, presentes na despedida do dois, zero, zero, oito, mais optimistas, tentam acalmar os pessimistas e os justicialistas, e, em tom paternalista, tentam convence-los de que vale a pena aguardar o próximo. “Quem sabe como será? –exclamam, aos gritos para serem ouvidos. “Deixemos morrer este em paz, e que o seu espírito não venha “encostar-se” ao vindouro. Tenhamos esperança no “novo” ano que vem aí”.
-Mas tu não ouves as notícias, ó optimista?, isto está muito mau! –interrompe um dos pessimistas.
-Claro que ouço, como todos vocês, mas, com este discurso negro apregoado e multiplicado até ao infinito, ainda me dá mais força para acreditar que estamos apenas a atravessar um deserto, e, como sabem, tudo é finito, logo, naturalmente, iremos encontrar um oásis para nos refrescarmos desta secura – replica o optimista.
-Eu gostava de ser como tu…”felizes, aqueles que acreditam”…-teima o pessimista –mas só se vê miséria em todo o lado…isto está muito mau! -(é interrompido pelo toque do telemóvel)-…estou, sim sou eu! Sim, claro que está combinado, vou sair dentro de uma hora (…) encontramo-nos no hall do hotel às 20 horas. Até logo.
Seguidamente, despede-se dos presentes com “um bom ano de 2009 para todos”.

sábado, 27 de dezembro de 2008

UM CHUMBO NA ORTODOXIA LABORAL



Em Portugal, habituámo-nos a aceitar as decisões institucionais como dogmas inquestionáveis, axiomas, verdades sem contestação. E se estas instituições estiverem erradas? E se a sua composição estiver viciada ideologicamente, poderão as suas deliberações serem isentas na procura do bem comum?
Podemos interrogar, em tempo de crise de valores e princípios, porque há-de a doutrina ideológica, assente numa cúpula, defender, petrificada e acerrimamente, os paradigmas sociais que, paradoxalmente, nada têm a ver com os dias que vivemos, e comportar-se como um elefante numa loja de porcelanas?
Como certamente já viram estou a escrever sobre o recente chumbo do Tribunal Constitucional sobre o alargamento do período experimental para a generalidade dos trabalhadores de 90 para 180 dias.
Metaforicamente, e, sem ofensa, perdoem-me os visados, o estúpido exemplo a que vou recorrer: faz-me lembrar as Testemunhas de Jeová deixarem morrer um seu membro porque, por princípio, são contra as transfusões de sangue. A sociedade se, por um lado, não deve perder de vista os seus valores e princípios –eles serão os fios condutores da nossa fundamentação e orientação na nossa forma de agir- por outro, se não tivermos em conta a dinâmica da vida, considerando-os eternamente estáticos e petrificados além-tempo, tornando-nos escravos deles, passamos a ser marionetas dessa mesma doutrina ou de quem a apregoar. Os valores e princípios –não são a mesma coisa: por analogia, os “valores” serão os vasos sanguíneos, e os “princípios” serão as artérias principais no corpo humano- deverão ser como a cultura, vão mudando conforme o tempo vai passando, embora, diga-se, a propósito, que os princípios são mais arreigados à comunidade e, por isso mesmo, mais difíceis de mudar.
Voltando ao veto do Tribunal Constitucional, a larga ovação de toda a classe política, ainda que de forma hipócrita, sobretudo o partido da oposição (o PSD), de todos os sindicatos, e ainda da maioria das associações patronais, exceptuando a CIP, Confederação da Indústria Portuguesa, todos bateram palmas à medida daquele órgão de soberania.
O que será melhor para o país, será continuar a manter pessoas sem trabalho, sem nada ganharem, ou, pelo contrário, mesmo a título precário, durante seis meses, terem ocupação? Porque será que se tem tanto medo do trabalho flexibilizado? Será porque se a lei se tornar mais dinâmica e extensível à “praxis”, o que passa a contar é a dedicação e o esforço que cada um desenvolve em prol da empresa onde labora?
O que acho estranho é todas as correntes políticas centro-direita estarem de acordo de que a nossa legislação laboral, pese o esforço deste governo de a dinamizar, é estática e antiquada e condutora de mais desemprego pelo elevado proteccionismo, porquanto essa mesma protecção concorre para o desinteresse, o abstencionismo e a falta de produtividade do empregado, e, perante este chumbo do Tribunal Constitucional todos mostrarem um sorriso de hiena.
O grave é a falta de visão, de uns, que exercendo clausulas-barreiras, condicionam o futuro de uma sociedade, sem ter em conta que vivemos no século XXI, um tempo pragmático, que não se contenta com orientações do passado, e de outros, que, sabendo que só defendendo o indefensável, através da manipulação colectiva, continuarão a existir.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

FELIZ NATAL





Dito assim, parece mais uma mensagem circunstancial igual a tantas outras. Bolas!, mas não é isso que eu quero. Vocês, leitores deste blogue, que têm tido a paciência de ler o que eu escrevo, merecem mais do que uma simples mensagem do tipo: toma lá e vai-te embora. Não é esse tipo de “encomenda” que vos quero entregar.
Tenho que dizer duas coisas em relação ao Natal. Por um lado, não gosto deste período. É um tempo triste e depressivo. Psicologicamente tem uma explicação, sei o motivo porque não gosto, mas não vos vou contar, que isso, para aqui, é irrelevante.
Socialmente, este tempo “santo”, para mim, deixa algo a desejar. É o Dezembro do “feliz Natal”, quase por obrigação recíproca. A prendinha dada quase da mesma forma. É a preocupação a termo certo com os mais pobres e carenciados. É como se durante este mês caísse uma nuvem social de boa vontade e depois, quando ela desaparece, lá para Janeiro, tudo volta à normalidade. Não queria ser demasiado duro, mas é um tempo que tem acoplado muita hipocrisia.
Mas uma coisa é certa, mesmo retirando toda esta carga nublada, acho que o Natal, igualmente a outras datas que pretendem chamar a atenção, são importantes. Ainda que durante pouco tempo, como bandeira de armistício, salienta o que de melhor existe dentro de nós: a paz, a solidariedade, a bondade, o respeito pelo outro e a preocupação social.
Quando tenho dúvidas em relação a qualquer coisa, tenho por costume fazer a aferição entre o mal maior e o mal menor. É assim uma espécie de balançar entre custos e proveitos. Quando chego à conclusão de que o mal menor é a opção, como quem diz, que os proveitos para a sociedade são maiores que os prejuízos (custos) não tenho nenhuma dúvida em embarcar no mesmo cruzeiro social. E é o que penso em relação ao Natal, mesmo com todas as premissas que enunciei, e na impossibilidade de o prolongar, é bom existir um Natal por ano.
Boas festas a todos e muito obrigados pela pachorra que têm tido ao “visitar-me” diariamente. O meu sincero obrigado, e, neste tempo de tristeza económica, em que parece não haver luz no horizonte, façam os possíveis por serem felizes e não percam a esperança. Não esqueçam que o sol todos os dias nasce. Nos momentos mais tristes pensem nos passarinhos, que nada tendo materialmente, continuam no seu chilrear de alegria. Sorriam o mais que puderem, por enquanto não paga imposto.
Um grande e apertado abraço a todos.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Parabéns Paco



Único!
Parabéns Paco de Lucia pelo 61º aniversário!

sábado, 20 de dezembro de 2008

A LOJA TRADICIONAL E A CRISE QUE ANDA NO AR




Nos dias que correm só se ouve falar da crise económica e das suas consequências. No que se vê e ouve, esta recessão (ou depressão), metaforicamente, é assim uma espécie de basófias –assim era designado o rio Mondego no tempo das grandes cheias- nos seus velhos tempos de grandes enchentes em que a força das águas levava tudo à frente. Só quem estava mais preparado, pelo costume dos anos antecedentes, pondo a salvo os seus haveres, transferindo-os para zonas altas, conseguia fazer face à intempérie da natureza. Claro que muito se perdia e, depois da tempestade vinha a bonança, isto é, segundo as crenças populares, os campos do Mondego ficavam muito mais fertilizados e produtivos. Há quem diga que a degeneração destes celeiros agrícolas, conjuntamente com o abandono dos campos, ocorreram também devido ao “desvio da natureza”, sobretudo, depois da construção da barragem da Aguieira e do controlo do caudal do rio. Claro que, por volta dos anos de 1960, com as ruas completamente alagadas, havia sempre alguém a espreitar o furo, como quem diz, ganhar dinheiro à custa de uma nova necessidade criada em torno da locomoção. Era assim que surgiam sempre, por esta altura, os barqueiros a transportar as pessoas de uma rua para um qualquer largo na zona da Baixa.
Por analogia, se hoje nesta crise continuam a haver alguns “barqueiros”, no dia-a-dia, há muito mais colectivamente. Ou seja, o consumidor, sempre atento às notícias, que duma forma obsessiva matraqueia o mais duro de ouvido, aproveitando bem esta maré depressiva, está transformado num sádico empedernido, que, sem peias de sensibilidade, não se importa de “calcar” um qualquer vendedor.
Então no comércio tradicional é de mais. Como as notícias que se ouvem, de que o comércio está muito mal e em desaparecimento, o comportamento do consumidor, nos pequenos estabelecimentos, hipoteticamente, tem o mesmo efeito devastador de um conhecimento prévio no Japão, antes de serem largadas as bombas atómicas: vender antes que desapareça tudo. Alguns clientes do comércio de rua, entram numa loja, e sem disfarçar, olham para o comerciante como o coitadinho, o indigente futurista. Chegam a perguntar, num tom de voz misturado entre a “caridadezinha” e o sádico: “o senhor não vende nada, pois não? “. Para logo a seguir, interessando-se por um qualquer artigo, oferecer metade do que estiver marcado e rematar: “sabe que não há dinheiro, isto está muito mau?!”. Como se o profissional do comércio de rua não soubesse como está a economia. Há casos pouco agradáveis de descrever. E se o conto aqui é porque tenho conversado com comerciantes que me dizem exactamente a mesma coisa. “Às vezes tenho mesmo de ser desagradável. Tenho de dizer que para hoje ainda tenho para o jantar, volte amanhã, porque pode ser que, nessa altura, esteja mesmo cheio de fome e, nesse caso, já vendo a qualquer preço “, exemplifica um comerciante.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

DEPOIS DO FALHANÇO DE FRIEDMAN, KEYNES SERÁ RESSUSCITADO?



Antes de começar este texto, como declaração de interesses, ressalvo que não percebo nada de economia. Claro que você pode interrogar-se: “e quem percebe?”. Então e eu sei lá?! Quanto a responder por mim isso posso: tento compreender, investigando, mas não sei nada. Claro que pode voltar a interrogar: mas se não percebe porque escreve? Olhe, porque tenho de escrever alguma coisa e, afinal, se outros, que dizem perceber, não acertam “uma para a caixa”, quem sabe se eu não percebendo mesmo nada, numa espécie de lotaria, possa acertar em qualquer coisa? No mínimo vou voando sobre o ninho da economia.
Claro que você já está a perguntar-se: mas afinal o que quer este tipo? Calma!, eu vou já directo ao assunto que me trouxe até aqui.
Ontem o Jornal Público publicava um a longa carta, com data de 20 de Novembro, de Paul Krugman, prémio Nobel da Economia 2008. O que achei mais interessante foi a sua acérrima defesa das teorias de John Maynard Keynes. Como se sabe este brilhante economista inglês (1883-1946) esteve por detrás da recuperação económica dos Estados Unidos, aquando da “grande depressão” de 1929, através de uma série de programas económicos (New Deal –Novo Acordo) entre 1933 e 1937. Contrário às teorias de “laissez faire, laissez passez” (deixai fazer, deixai passar), de Adam Smith e David Ricardo, que defendiam a auto-regulação do mercado pelo próprio mercado e a favor do mercado livre nas trocas comerciais e contra o proteccionismo, ou seja, as bases do liberalismo económico, Keynes defendia a intervenção do Estado no relançamento da economia, através de grandes obras públicas, com implicações directas no emprego (Teoria Geral do Emprego, juro e moeda, de 1936).
Voltando ao Público de ontem e a Krugman, dizia então o laureado pelo Nobel de 2008 que “o que o mundo precisa neste momento é de uma operação de salvamento. (…) e para conseguir isto, os decisores políticos à volta do globo têm de fazer duas coisas: colocar de novo o crédito a circular e estimular o consumo. (…) o que está por trás das restrições ao crédito é uma combinação de pouca confiança e capital pulverizado nas instituições financeiras. As pessoas e as instituições, incluindo as financeiras, só querem lidar com quem tenha um capital substancial para garantir os seus compromissos, mas a crise esgotou o capital em toda a parte. A solução óbvia é injectar mais capital. (…) em 1933, a administração Roosevelt usou a companhia de Reconstrução Financeira para recapitalizar os bancos, comprando acções preferenciais (…). Em todos estes casos a cedência de capital ajudou a restaurar a capacidade dos bancos para efectuar empréstimos e desbloqueou os mercados de crédito.”
Continuando a citar Krugman, “(...) O próximo plano deve concentrar-se em manter e expandir os gastos governamentais –manter através de ajudas às administrações locais e estatais, expandir com gastos em estradas, pontes e outros tipos de infra-estruturas. (…) Se a despesa pública for estimulada a uma velocidade razoável, deverá chegar muito a tempo de ajudar –e tem duas grandes vantagens relativamente a benefícios fiscais. Por um lado, o dinheiro seria efectivamente gasto; por outro, algo de valor (por exemplo, pontes que não caiam) seria criado. (…) A fase definidora da economia é suposto ser “Não há almoços grátis “; quer dizer que os recursos são limitados, que para termos mais de uma coisa temos de aceitar menos de outra, que não há ganho sem sofrimento. No entanto, a economia de depressão é o estudo de situações em que existe um almoço grátis, se conseguirmos perceber como pôr as mãos em cima dele, porque existem recursos ainda não utilizados que podem ser postos em acção. A verdadeira pobreza no mundo de Keynes –e no nosso- era assim, não de recursos, ou mesmo de virtudes, mas sim de compreensão. (…) Há quem diga que os nossos problemas económicos são estruturais, sem possível cura rápida; mas eu acredito que os únicos obstáculos estruturais importantes para a prosperidade mundial são obsoletas doutrinas que confundem as mentes dos homens”.
Certamente já viu porque publiquei extractos da carta do grande economista. Como sabe esta é a teoria económica defendida pelo Primeiro-Ministro José Sócrates para o nosso país, isto é, relançar a economia através de grandes obras públicas, tais como o TGV, o aeroporto, construção de novas auto-estradas e também o relançamento do consumo pelas famílias –que, a propósito, não se sente- com o apoio aos bancos em grandes operações financeiras.
Depois de ouvirmos Medina Carreira, no programa da SIC Notícias, dizer que ressuscitar as teorias económicas de Keynes em Portugal era um verdadeiro disparate, tendo em conta que somos um país que se abastece no estrangeiro e que não é auto-sustentável. Disse ainda (com muita lógica) que se se relançar o consumo das famílias através da injecção de crédito, para além da inflação disparar, a receita gerada vai direitinha para os nossos fornecedores além-fronteiras.
Depois da “morte” recente e enterrada das teorias económicas neo-liberais de Milton Friedman, quem tem razão? Eu cá não sei. Limitei-me a transcrever as opiniões de quem diz saber, porque, se calhar, você está tão perdido nestes labirintos como eu. Apenas tentei acender um fósforo nesta noite escura.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

UM PENSAMENTO EM FORMA DE ESPECULAÇÃO




“Preferimos a pobreza em liberdade à riqueza na escravidão” –Ahmed Sékou Touré, primeiro presidente da República da Guiné ( 1922-1984).
Especulando sobre esta frase, que diz muito sobre o homem enquanto ser antropológico, exactamente porque, contrariando o que se esperava de um poeta e pensador, Sékou Touré depois de levar a República da Guiné à independência, cortando os elos coloniais que a ligavam à França em 1958, tornou-se um ditador de partido único, numa economia socialista, e intolerante a direitos humanos, nomeadamente às liberdades de expressão e oposição política. Mandou prender milhares de opositores em prisões parecidas com os “Gulags” soviéticos, onde centenas de pessoas perderam a vida.
Mas vou-me deslocar um pouco da imprevisibilidade do “ser” antropológico e pegando na frase, com uma diferença de quatro décadas, vou desviar-me e à luz dos nossos dias, no materialismo consumista que conhecemos, vou tentar dissecar filosoficamente o objecto que lhe está subjacente, ou seja, a liberdade como “prius” acima de toda a riqueza.
Hoje, para os jovens aquela frase faz algum sentido? Preferir a liberdade em detrimento da riqueza e do bem-estar? Estou convencido que não. Só se dá valor a algo que durante um tempo a sua inexistência contribuiu para a nossa infelicidade. Ou, pelo contrário, algo que fazia parte da nossa felicidade e se perdeu. Essa lacuna, quanto maior foi a sua marca na nossa vida, intrinsecamente, mais valor lhe damos, empiricamente, ao longo da nossa existência.
E a ser assim, é evidente que se os nossos filhos já nasceram neste berço de liberdade, encarando-a como um valor fundamental, mas, ao mesmo tempo, desvalorizando-o e tomando-o como um direito adquirido. Continuando o mesmo raciocínio, não admira, é lógico, que, à luz da sua experiência de vida, troquem a riqueza material pelo abstracto valor liberdade. Reparemos, e voltando um pouco atrás, Sekou Touré, há 50 anos, fez exactamente a mesma coisa. Enquanto sentia na carne a discriminação e a segregação de ser negro lutava e pugnava pela liberdade, a partir do momento em que a conquistou arrumou-a na gaveta, subalternizando-a, inverteu a filosofia da frase que lhe deu notoriedade, e tornou-se um materialista ditador comunista.
Claro que, sociologicamente, poderemos especular que, no fundo, só procuramos o que não temos e que a partir do momento em que vemos saciado o nosso desejo passamos a concentrar a nossa atenção noutros objectivos. Poderemos também pensar que o homem será mais rico ideologicamente quanto menos tiver materialmente. Já dizia Adam Smith, no século XVIII, que toda a propriedade corrompe.
Talvez lendo Alexis de Tocqueville (1805-1859) se entenda melhor o “novo” homem democrático e a procura quase obsessiva pelo materialismo quando afirma: “os povos democráticos querem a igualdade (material) na liberdade e, se não a puderem obter, ainda a querem na escravidão”. Diz-nos, em suma que a ambição é um sentimento universal. Assim como nos mostra que o Estado se organiza para promover e estimular o progresso material, nivelando a riqueza através da distribuição, tentando erradicar a miséria, e “democratizar” o bem-estar ao maior número de cidadãos.
E para terminar, no limite, poderemos pensar que, perante este consumismo exacerbado, estaremos numa nova forma de ditadura materialista, criada e pensada pelos governantes hodiernos para nos tornarem assépticos à ideologia e à procura de um mundo melhor…desmaterializado.

PARA A POSTERIDADE


quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

E A GRÉCIA AQUI TÃO PERTO



O que se está a passar na Grécia deveria fazer pensar todos os membros da União Europeia e muito em particular o nosso país. Segundo o Jornal Público de hoje, em que na capital, Atenas, para além de pilhagens, foram destruídos 49 edifícios de escritórios, 47 lojas, 14 sucursais de bancos e 20 carros. Nas últimas horas o presidente da Câmara de Atenas já veio anunciar que tinham sido destruídas entre 360 a 370 lojas. “Os tumultos foram desencadeados pela morte de Grigoropoulos (um jovem de 15 anos atingido no sábado mortalmente pela polícia, depois do adolescente, num grupo de mais de 30, ter atacado o carro das forças da ordem), mas têm a sua origem no desemprego, que é de 8 por cento e tende a aumentar, na inflação elevada, na corrupção ou na falta de perspectivas para os mais jovens”.
Continuando a citar o jornal, “a violência alastrou a várias cidades (gregas). (…) líderes políticos e sindicais (…) acusaram o Governo de ter promovido reformas que pioram as condições de vida para “um quinto dos gregos que vive na pobreza”.
“Os quatro dias de violentos motins nas maiores cidades da Grécia, (…) expõem a nu as fragilidades de um país plenamente integrado na União Europeia que vive assolado pela falta de perspectivas de futuro entre os jovens. (…) Sinalizam a profunda tensão social no país onde um em cada cinco trabalhadores vive abaixo da linha de pobreza, de acordo com as estatísticas governamentais. À sensação de cerco generalizado nos jovens –insegurança económica, desemprego, baixos salários- acresce uma profunda desilusão em relação à política de privatizações e à reforma do sistema de pensões seguida pelo governo (…) “
“Entre uns e outros, milhares de jovens têm destilado a sua raiva nas principais cidades gregas. (…) “porque não toleramos mais este governo (…) temos 25 anos, terminámos os estudos, não temos dinheiro e só nos resta partir para o estrangeiro”, afirmou uma recém-licenciada em Sociologia de 25 anos. Porque “há toda uma geração que vê os seus pais endividados até aos dentes e que sente que o futuro não lhes vai trazer nada de bom”, explicou ao “Guardian” Christos Mazanitis, um jornalista de Atenas. “Estes motins são sobre o medo e o desespero”, concluiu o jornalista.
Continuando a citar o Jornal Público, “Theo Livanios, um analista do Instituto de sondagens Opinion, considera que (…) há uma explosão de cólera da juventude contra a polícia que, tal como o Estado, não é vista como uma instituição que trabalha para o bem comum “.
(…) “a falta de investimento em sectores chave como a educação ou a saúde, a degradação dos subúrbios e o autismo de um poder que “não percebe os verdadeiros problemas das pessoas”, como se apressou a sublinhar George Papandreau, o líder do Pasok, o maior partido da oposição”.
“Thomas Siozos, à frente da sua loja vandalizada, disse à Reuters: “tenho 73 anos e nunca vi nada assim. A morte do rapaz foi uma desculpa. O Governo não pode cuidar apenas dos ricos”.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Música de Natal

Já não posso ouvir música de Natal!!!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

UMA FOLHA CAÍDA NO NATAL



É Dezembro…
uma folha cai…lentamente…
ziguezagueia por entre a amálgama de gente,
gente apressada, escrava do tempo,
insatisfeita, faces duras sem contento,
pisam a folha, alinhados em parada, com tacões,
ecoam na calçada…como centuriões;
As pedras vibram, com tanta precisão,
uma pedrinha solta-se na multidão,
alguém a pontapeia, ao acaso, em estopada,
ela rolando, por ali, vai sendo pontapeada;
O vento sopra, cortante, e a folha voa,
e de cima, olha para baixo, vê à toa,
este exército mal ordenado,
como se estivesse condenado,
a andar, andar, sem se render,
mesmo sabendo que vai morrer;
E de novo a folha cai…lentamente…
Um louco ri sozinho…desalmadamente,
pega na folha, com carinho, o anormal,
afaga-a com a mão, como se fosse um pardal,
faz caretas, gesticula, dança ao vento com nobreza,
embala a folha, dá-lhe beijos, filha da natureza,
nem o frio, a refrear o ímpeto, lhe faz mal;
Ele sabe que é festa, não sabe que é natal,
não sente a solidão, não conhece abraços,
não sabe a razão de tantos laços,
tantos sacos e sacas enfeitadas,
tantas almas embrulhadas,
tanto amor materializado,
tanto calor humano…desperdiçado;
Entre o dever e o ser,
não é gente sem…o ter;
E a folha…lentamente,
nos braços de um demente,
sorri…para a turba disforme,
e pensa a folha, se eu falasse…uma frase conforme,
mesmo com a voz do tonto rouco,
gritaria em altos berros: AFINAL QUEM É O LOUCO??!

CARTA AO MENINO JESUS



Não preciso de te dizer quem sou. Tu conheces-me bem. Deves saber que nos últimos dias, deste começo de Dezembro, tenho travado contigo grandes monólogos. Sim, monólogos, porque nunca me respondes. Talvez porque entenda que deves ter muitos meninos como eu a pedir-te coisas, e deva ser-te difícil identificar todos, vou ajudar-te: sou aquele miúdo de onze anos, que mora nos arredores da cidade –já estás a ver, não estás?
Diz-me, Menino, porque nunca me respondes, e me obrigas a contactar-te por carta? É por eu, nos últimos tempos, me ter tornado agressivo na escola? Se é por isso, até tens razão, os stôres nem merecem, até são bué de fixes. Mesmo com os problemas deles, com essa coisa da avaliação, a verdade é que estão sempre preocupados comigo. Ou tem a ver com o facto de eu me tornar cada vez mais fechado e triste? Que queres, não tenho alegria?! Ou será por este ano, lá em casa, ninguém fazer o presépio e tu continuares arrumado no baú da entrada? Também sabes que eu não posso fazer nada. Aquela minha casa, outrora um jardim florido, hoje está transformada num campo de batalha entre os meus pais.
Apesar de tudo isto, sabes muito bem que sempre que posso abro a arca, pego-te ao colo e falo contigo. Sabes que és o meu melhor amigo mais porreiro? Então porque nunca me respondes? Por muito menos cortei com o Outro. Sim, esse! Estamos a falar de Deus. Andei tantos anos na catequese, procurei ser sempre cumpridor das minhas obrigações para com Ele. Conforme as recomendações do senhor padre eu ia sempre à missa e até ajudava no ofertório. Fazia tudo direitinho para ser um bom menino. Quando a minha vizinha, a Dona Ermelinda, aquela velhota da porta ao lado, do 31, queria atravessar a rua eu sempre fui a correr para ajudá-la. Pois! Mas quando eu precisei Dele não me ligou nenhuma. Tanto lhe pedi que ajudasse os meus pais e os mantivesse unidos. Lá se importou Ele com os meus pedidos e que eles se tivessem divorciado há menos de meio ano! Não mexeu uma palha!
Agora, lá em casa, é a bagunça que tu sabes. Mas vais ajudar-me, não vais Menino? Vais fazer regressar a paz à minha casa, não vais? És a única esperança que me resta. Se fizeres como o Outro não sei o que farei. Eu já não aguento mais. Reparaste há dias o que aconteceu quando o meu pai, para provocar, levou lá a casa a sua nova namorada? Viste o que fez a minha mãe? Embrulharam-se as duas à pancada, veio a polícia, foi um escândalo lá na rua. Mas, vê lá, se isto dos meus pais, depois de divorciados, ficarem a morar na mesma casa faz algum sentido?! Ainda por cima com o argumento de que ambos ficavam a cuidar da minha educação, enquanto mais novo, porque os meus dois outros irmãos já se desenrascam bem.
Uma treta, amigão! Eles nunca quiseram divorciar-se e então, quando viram que o processo da papelada já era irreversível, jogaram então com a minha educação para os manter juntos de coração.
Ajuda-me a compreender estes adultos. Estiveram casados 22 anos. Sempre se amaram e deram bem, de repente, como aquele terramoto que varreu a Ásia, tudo se alterou. Tudo ficou de patas para o ar. Faço tantas vezes a pergunta: o que aconteceu para duas pessoas que mal respiravam uma sem a outra se tornarem inimigas? Se calhar fui eu o culpado. Tantas vezes penso nisso, Menino! E para mais, agora que estão desavindos, chegam a parecer que não gostam de mim. A minha mãe nunca mais me deu beijinhos quando vou para a cama e o meu pai também não, porque nunca está em casa a essa hora.
Não encontro explicação. Há dias vi um programa na televisão –sei o que vais dizer: que eu passo muitas horas na televisão e no computador, mas que queres, são a minha companhia?! –que dizia que os adultos depois dos quarenta anos, julgando-se velhos precoces, querem fazer tudo aquilo que não puderam fazer. Será isso?
Faço tanta pergunta e não tenho nenhuma resposta. Nunca houve lá em casa aquela coisa de que tanto se fala: a violência doméstica. Pelo menos até há poucos meses eu não sabia o que era isso. Agora conheço-a bem demais: veio atrasada, mas com juros. Começam por se agredir em palavras e depois vem a pancada. Mas, para o caso, tanto é um como outro, são iguais.
Mas uma coisa sei, Menino: eles amam-se e precisam tanto um do outro! Só um milagre pode evitar que se destruam mutuamente, e, como bola de pingue-pongue, me arrastem com eles.
Será que podes ajudá-los? Se o fizeres, palavra de honra, prometo-te que farei as pazes com o teu Pai.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

"SE CÁ NEVASSE FAZIA-SE CÁ SKI"



A contrariar “os Salada de Frutas”, em 1981, com a inauguração, há minutos, na Praça do Comércio, prova-se que sem nevar é possível fazer ski numa pista artificial. Uma boa iniciativa da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, que visa trazer mais pessoas, quer da cidade para a Baixa, quer de zonas limítrofes a Coimbra.
Venham e tragam as crianças. A pista estará aberta todos os dias entre as 9h30 e as 23 horas, excepto aos domingos em que o horário será das 11h00 às 23h00. Isto durante todo o mês de Dezembro. Venha daí…

Aí Manuela... Manuela....

"HOMEM LOBO DO HOMEM"




O título foi furtado ao empirista Thomas Hobes (1578-1679). Lembrei-me desta designação, e da filosofia que lhe está subjacente do grande materialista inglês, ao constatar hoje, aqui na Baixa, um peditório para uma associação de apoio a ex-tóxicodependentes. Vou então contar a história:
O homem, de trinta e poucos anos, bem vestido, mas com uma aura que o tornava diferente, entrou-me pela loja adentro. Era uma daquelas pessoas que olhamos e a primeira impressão diz-nos muito sem dizer nada. O indivíduo trazia ao peito uma lata redonda, com uma pequena ranhura para introduzir moedas e notas. Trazia também ao peito um cartão identificativo da Associação “A Arca da Vida”. Embora tivesse fotografia o cartão era um pouco tosco. Na mão, um pequeno cesto de vime, com alguns laços de fita vermelha –identificativos com a sida. Junto a estes laços, imensas moedas e notas de 5 euros.
A primeira impressão que tive foi a de que estava a ser burlado: das duas uma ou o homem não representava nenhuma associação com aquela sigla ou então, pelo contrário, representava mesmo, mas havia ali marosca. E, neste caso, o fulano estava a burlar a associação que o abrigou e lhe deu apoio. E como?! É simples: os óbolos que entravam na lata redonda, que estrategicamente estava colocada atrás, iam para a “A Arca da Vida”, as pequenas dádivas colocadas no cesto de vime iam para “a vida da arca” do sujeito. Claro que ele fazia tudo para que as pessoas utilizassem o cesto.
Depois de descobrir o número de telefone da sede da “Arca da Vida”, na Maia, fiquei a saber que este peditório estava regulamentado e pertencia a uma dependência de Mira. Lá falei, telefonicamente, com o responsável que ficou de boca-aberta: “o quê? Esse sujeito anda a fazer isso? E as pessoas, não vêem que ao colocar no cesto as moedas estão a contribuir para uma fraude?! Muito obrigado, muito obrigado, vou já tratar disso, porque estou aqui em Coimbra”.

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Já depois de escrever este texto acima, fui informado de que o “lacinho vermelho” é exclusivo da Liga Portuguesa Contra a Sida (LPCS). Vai daí, hoje, liguei para a sede em Lisboa e fiquei a saber várias coisas:
A primeira é que a LPCS normalmente não faz peditórios a nível nacional. Quanto muito fá-los localizados e quase sempre em Lisboa;
A segunda informação que obtive, e esta já calculava, é que todos os que, como eu, contribuíram foram burlados. Nem esta Associação “Arca da Vida”, nem outra qualquer instituição está autorizada a “utilizar” o nome da LPCS;
A terceira informação, em forma de constatação, é que esta instituição da Maia e com ramificações em Mira, para além de poder ser acusada de fraude (perante os transeuntes anónimos) pode também ser acusada de abuso de confiança e apropriação ilícita de simbolo, visando o enriquecimento;
A quarta informação, e aqui não deixa de ser curioso, reparem na burla em cadeia: “A Arca da Vida” começa por vigarizar a LPCS utilizando os anónimos cidadãos; a seguir os membros daquela associação, para além de materialmente burlarem as pessoas de boa vontade, enganam também a empresa a que pertencem;
E por último, a título de prémio particular, talvez pelo esforço desenvolvido, o gerente da instituição de Mira, numa forma teatral e magistral, através do telefone, engana-me a mim.
Sem “pinta” de modéstia o título de “homem lobo do homem” foi mesmo feliz. É por estas e outras que cada vez mais as pessoas ficam descrentes e “frias” perante, muitas vezes, a desgraça alheia.

BOLA DE CRISTAL




A PEDIDO DE AMIGOS (E FUTUROS CLIENTES), DEPOIS DE CONSULTAR A BOLA DE CRISTAL, VOU RESPONDER A DUAS PERGUNTAS FORMULADAS:

1ª-CAVACO SILVA VAI SER REELEITO EM 2011?

2ª-EM CASO NEGATIVO, QUEM VAI SER O PRÓXIMO
PRESIDENTE?

EIS AS RESPOSTAS:

1ª-ANÍBAL CAVACO SILVA, ELEITO EM MARÇO DE 2006, COMO O 18º PRESIDENTE DA REPÚBLICA PORTUGUESA, CONTRARIAMENTE AOS SEUS ANTECESSORES –QUE TODOS FORAM REELEITOS PARA O SEGUNDO MANDATO- NÃO VOLTARÁ A PRESIDENCIAR O PAÍS;

2ª-O PRÓXIMO PRESIDENTE DA REPÚBLICA SERÁ MANUEL ALEGRE. CONSEGUINDO REALIZAR UM VELHO SONHO, ESTA PROEZA SÓ FOI POSSÍVEL GRAÇAS “AO VENTO QUE PASSA”, QUE, ATÉ AQUI, EM CONLUIO, “CALOU A DESGRAÇA” EM “NOTÍCIAS DO MEU PAÍS”.
ENTÃO, “O VENTO QUE PASSA”, FARTO DE SOPRAR VENTOS CONTRÁRIOS, VENDO “MINHA PÁTRIA PREGADA NOS BRAÇOS EM CRUZ DO POVO”, REUNIFICOU A ESQUERDA EM TORNO DA SUA CANDIDATURA, E EIS ENTÃO O 19º PRESIDENTE DA REPÚBLICA PORTUGUESA.

UMA CONVERSA "PÉ-DE-ORELHA"

(FOTO MIGUEL A. LOPES/LUSA)

Mário Nogueira para Manuel Carvalho da Silva, durante o XVIII Congresso Nacional do PCP: “Ó Pá!, não achas estranho este unanimismo? ...98%?! Temos de fazer qualquer coisa! Este “gajo” (Jerónimo de Sousa), a discursar, parece o Sócrates. Temos de abrir fissuras, camarada, senão, por este andar, morremos de velhice sem chegarmos a líder e nunca mais lhe tiramos o poder. Sabes muito bem, camarada, que o poder corrompe, e este “gajo”, no apego ao poder, está conspurcado pela força capitalista. Olha como ele discursa, olha a pose. Temos de fazer qualquer coisa! Tu tratas da cintura de Lisboa que eu me encarrego do centro”.

sábado, 29 de novembro de 2008

UM DIA DE CHUVA




Hoje a cidade está macilenta
as pessoas “correm”, encolhidas,
olham as pedras do chão, tolhidas,
a sua disposição está cinzenta;
Não se vê uma cara com um sorriso,
no casaco albergante arrumaram a alegria,
concentrados na chuva e no frio que fazia,
como se, em flocos, caísse uma nuvem de siso;
No guarda-chuva, dogma de fé, fizeram protector,
pouco importa se passa um qualquer farsante,
um vendedor do Borda d’Água, um talhante,
que “pique” o monstro, a solidão, esse Adamastor;
Nem as bolas azuis, no céu de esperança, deste Natal,
nem o “espírito” de Bocage, presente, junto ao café Nicola,
parecem fazer acordar a gente que passa, sem ligar “bola”,
caminham embrulhados com a chuva, não têm tempo, nem faz mal;
A rua está triste, está muda, só o bater das botas ecoa na calçada,
nem um som rogado de um pedinte se ouve: “uma moedinha senhor”,
nem uma concertina, nem uma trompete aquece o frio com calor,
como se o inverno fosse inimigo de quem precisa, fosse uma maçada;
No largo, o “mata-frades”, de costas para a heresia, parece escrever,
olha as nuvens negras, apreensivo, não sabemos bem acerca de quê,
vai passar ao papel, com a pena, talvez seja entendível para quem lê,
provavelmente, pensa na justiça, na insegurança, neste entreter;
A cidade, não dando nada, continua a ser a Meca da esperança,
centro de confluência, núcleo de atracção, entre rico e indigente,
todos abandonaram tudo pelo“eldorado”, miragem de tanta gente,
correm, na rua, não sabem porquê: é algo que não se alcança;
Secos de fé, não vêem o Natal, muito menos no menino, em essência,
autómatos, vão em frente, sem rumo, como caminheiro errante,
agora, nestes tempos, o seu “Deus” é económico, esse tratante,
não olham para Ele como salvador do espírito, é a sobrevivência.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Memória

Sem nunca esquecer as grandes divas e os grandes autores!

Ana Moura

A nova geração de fadistas!

Bons poemas, bons temas, arranjos cuidados... e fadistas bonitas!

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Lance Armstrong na sua luta...

Lance Armstrong não se limitou a dizer que tinha uma doença e que essa era passível de ser superada... não se limitou depois de ter tido cancro ganhar 7 vezes o Tour de France, mais do que qualquer outra pessoa... este SENHOR, porque tem que ser escrito com todas as letras em maiúsculas... leva a sua luta personalizada na sua fundação LIVE STRONG a um nível nunca visto... utilizando o Youtube para publicitar (um meio que cada vez se vê que é indispensável para passar mensagens nos tempos de hoje), como vai voltar a correr não recebendo qualquer salário... e embora não vá correr o Tour de France para perder vai sobretudo para publicitar a sua fundação!!!!

Só nos resta transmitir a mensagem...


Boa sorte Lance, para o que espero que seja a 8ª vitória no Tour (embora não pense que será muito fácil)

terça-feira, 25 de novembro de 2008

UMA VIDA QUE VAI MUITO ALÉM DE UM SÉCULO










Eram cerca de 13 horas. A longa e alva limusina estacionou à entrada do bonito pavilhão da aldeia de Barrô, ali, entre a Mealhada e o Luso. O “chouffeur”, equipado a preceito, largou o seu lugar de condutor e foi abrir a porta a uma linda senhora de olhos vivos e médios cabelos brancos.
Ao colocar lentamente o seu primeiro pé fora do automóvel de cerimónia, como estrela de Holiwood, as máquinas fotográficas, em flashes, não paravam de disparar, acompanhadas por uma extensíssima ovação de largas dezenas de pessoas. E o caso não era para menos, a linda senhora, de seu nome Lucília Dias Morais, ia ser homenageada pelo seu recente aniversário. Para isso até fora criada uma comissão de honra encarregue de toda a tramitação logística. Ali, naquele lindíssimo pavilhão, o orgulho dos habitantes de Barrô, ia ser prestada uma prova de admiração e reconhecimento. Admiração, pelo facto da D. Lucília ir soprar uma vela representativa dos seus cem anos de vida. Reconhecimento, pelo facto de ao longo de um século, numa vida entremeada entre o trabalho e a modéstia, ser uma pessoa boa, com um coração do tamanho de um abraço, que, apesar das suas poucas posses materiais, “matou a fome a muita gente da aldeia", diziam os convivas quase em coro.
Apesar da comparência do presidente da Câmara Municipal da Mealhada, Carlos Cabral, do presidente da Freguesia de Luso, Homero Serra, e do presidente da ACIM (Associação Comercial e Industrial da Mealhada), Carlos Pinheiro, que, num gesto bonito e solidário, não deixaram de estar presentes, havia, no entanto um “senão”, havia apenas fotógrafos, constituídos por amigos e familiares e pelos dois semanários da sede de Concelho: O “Jornal da Mealhada” e o “Mealhada Moderna”. Para além de terem sido convidados os dois jornais diários de Coimbra e um de projecção nacional, a RTP, a SIC e a TVI, nenhum destes órgãos de informação compareceu.
O “Zé” Maria “barbeiro”, o “cabeça” da comissão da festa, para que nada falhasse, um mês antes tinha vindo falar comigo para que eu providenciasse a ida dos “media” a Barrô. Chamando a mim esse encargo, quatro dias antes, telefonicamente, falei com quase todos. Só a dois enviei e-mail.
Quando se abriu a porta da limusina, o “Zé” Maria, vendo apenas flashes de fotografias e nenhuma câmara de filmar profissional, com uma cara de aflição, vira-se para mim e, numa interrogação de dor, exclamou: “Ó pá, a televisão?!”. Confesso que tive dificuldade em lhe mostrar que me empenhei, mas que não fui correspondido na minha solicitação.
A senhora Lucília deu entrada no salão, acompanhada pela Natália, a sua filha, pelos seus netos, o António Taveira, o meu companheiro de escola, que viera expressamente da Suíça, e que não via há mais de uma vintena de anos, a Maria Madalena que labuta no Luxemburgo e, tal como o irmão António, viera de propósito em honra da “melhor avó do mundo”, assim como a Isabel e a Ana Maria que, diariamente e habitualmente, como estão na aldeia, distribuem um beijo à sua avó, por acaso, a mais idosa da terra.
A senhora Lucília tem 6 netos, 16 bisnetos e 4 tetranetos.
Lá dentro, acompanhada pelos muitos amigos esperava-a um suculento repasto, muito saboroso e com bebidas à discrição. A senhora Lucília, como debutante, sempre a ser solicitada, parecia estar no seu mundo. Quando lhe perguntei o que achava daquela festa, na sua simplicidade, com uma lágrima a balouçar de emoção, respondeu: “muito lindo, eu não merecia esta festa, estão a ser bons demais para mim!”.
A meio da tarde, antes de apagar a vela, actuou o Rancho folclórico de S. João de Casal Comba, onde a “rapariga” centenária deu um “pezinho” de dança. Antes de cortar o bolo, foi lido um poema inédito em sua honra, com o título “Um século por uma vida”.
Durante a tarde e a entrar pela noite dentro a festa continuou abrilhantada pelo grupo musical “Magda Sofia”.
Quase no fim, o meu amigo “Zé” Maria, já mais confortado pelo óptimo desempenho da comissão de honra e agora já mais resignado pela falta da televisão, atirou-me: “ó pá!, não levámos Barrô ao mundo, mas provámos que, na alegria e na partilha, o mundo está aqui!”.

VALE A PENA RECORDAR


MANUELA, CUIDADO…

Manuela, se tu fores ao baile, em vez de xaile, leva armadura. Não te deixes endeusar, com quem te quer adular, eles só te querem tramar. Não te julgues cinderela, muito menos igual a ela, tu és pessoa real. Não te julgues Nossa Senhora, muito menos pecadora, tem cuidado Manuela. Tu estás num ninho de cobras, onde já não sobram sobras, muito menos mais para ti. Aqueles que erguem o teu andor, que se ajoelham e apregoam amor, serão os teus próximos verdugos. Procedem como texugos, burgueses “egocentristas”, que o que têm mais é lábia.
Manuela, não te deixes seduzir, tu sempre foste sábia, escorraça esses traidores. Vira-lhes o cu Manuela, eles não têm amores, a não ser ao interesse. Tu sabes daquilo que falo, como se eu conhecesse a sua imensa lata. Segue em frente Manuela, tu és Social-Democrata, não és a Virgem Maria. Eles só te querem lixar, não querem a democracia, querem unicamente poder. Vai por mim Manuela, manda-os mas é…coser as calças do seu avô. Quando eles te abraçarem, grita alto, xô, xô!!
Se fores à festa Manuela, não abraces os barões, dá-lhes um pontapé nas partes pudibundas, e manda-os para os “tralhões”.

(EM 29 DE ABRIL ESCREVI ESTE TEXTO NO MEU BLOGUE (www.questoesnacionais.blogspot.com). DESCULPEM LÁ ESTAR A AUTO-CITAR-ME MAS ATÉ PODE DAR JEITO. É FÁCIL DE VER, COMO COMERCIANTE, PROVAVELMENTE, NÃO TEREI FUTURO; COMO ESCRITOR, IDEM ASPAS; COMO POLÍTICO, UMA DESGRAÇA. POR AQUI JÁ ESTÃO A VER A COISA, NÃO ESTÃO? POIS É! JÁ ESTOU A PREPARAR O CAMINHO PARA MONTAR UM CONSULTÓRIO DE PRESCIÊNCIA (ADIVINHAÇÃO). AFINAL NEM SOU O PRIMEIRO, BASTA LEMBRARMO-NOS DA ALEXANDRA SOLNADO E DA FLORBELA QUEIRÓS. OU, POR EXEMPLO, DO PROFESSOR BAMBO. A VIDA ESTÁ MESMO DIFÍCIL!)

MOINHOS DO DISTRITO DE AVEIRO


sábado, 22 de novembro de 2008

Luz ao fundo do túnel


Pedro Machado ganhou as eleições para a Comissão Política Distrital do PSD de Coimbra.
Será um sinal para a Região de Turismo do Centro?

UM SÉCULO POR UMA VIDA





Corria o ano de mil novecentos e oito,
na aldeia de Barrô,
um casal, alto, gritou,
o homem estava afoito;
Em Novembro a mulher gemia,
o homem não parava,
a parteira conciliava,
uma criança nascia;
Depois foi o baptizado,
crescer na indiferença,
onde a fome sem licença
entrava em qualquer lado;
De criança até mulher,
foi como um raio solar,
uma aragem a soprar,
a guerra que se não quer;
Era o orgulho da família,
uma rosa perfumada,
seguida por tudo e nada,
assim era a Lucília;
Chamavam-lhe “malhadiça”,
por saber o que queria,
em conversa ela não ia,
foi escolher à Vacariça;
Tinha então vinte e tal mais,
era recto como um fuso,
casou então no Luso,
nos braços de José Morais;
Amava-o perdidamente,
três filhos pariu na vida,
um deles foi de partida,
dois ficaram para semente;
Veio uma outra guerra do mar,
notícias para esquecer,
quase dava para morrer,
mas era preciso lutar;
Sem medo foi à aventura,
na procura timoneira,
foi mãe, foi cozinheira,
na miséria e na fartura;
Conheceu a democracia,
a empalhar um garrafão,
ainda tem na mesma mão,
os calos da utopia;
No século que ainda a choca,
olha todos a troçar,
até parece adivinhar,
a inveja que provoca.
.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Infelizmente não me surpreende!



"A Livraria Byblos, a maior do país, inaugurada há um ano em Lisboa, encontra-se esta quinta-feira encerrada sem qualquer justificação aos clientes que se dirigirem às suas instalações, nas Amoreiras."



In Jornal de Notícias

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

PARABÉNS A VOCÊ: UM SÉCULO DE VIDA





Corria o mês de Novembro do ano de 1908, quando a aldeia de Barrô, entre a Mealhada e o Luso, foi acordada por um grito estridente de um recém-nascido. A parteira, com as mãos ensanguentadas, grita para o pai, ansioso e alagado em suores, do novo ser nascente: “é menina, é menina!”
Acabava de vir ao mundo uma mulher que nascera no mesmo ano, em que se dera o Regicídio, em Fevereiro, com a morte do Rei D. Carlos e o Príncipe Luís Filipe, constituindo este atentado o estertor de um sistema fragilizado e caduco pela ostentação de uma classe burguesa insensível, em desfavorecimento maioritário de um povo triste e sofredor. Cairia decrépito em 5 de Outubro de 1910 com a implantação da República.
Esta mulher, concebida nos planos do Regicídio, seria baptizada com o nome de Lucília Dias. Atravessou a 1ª Grande Guerra, de 1914 a 1918, e sofreu na pele, através da fome e da carência de bens alimentares, as primeiras turbulências do novo regime político republicano.
No ano de 1929, com o mundo financeiro a abanar, através do crash das bolsas mundiais e que daria origem à grande depressão, na igreja de Luso, com convicção firme, dava o “sim” a José Morais, “o homem mais pobre que havia na Vacariça” (uma aldeia próxima), segundo as suas palavras. Em 1939, quando estala a 2ª Guerra Mundial, Lucília já tinha três filhos, duas raparigas e um rapaz. Uma delas morreu precocemente de uma doença rara que não lembra.
Lucília sempre foi uma mulher de armas feitas pela sua vontade férrea e indomável. Punha as mãos ao trabalho como qualquer um ao lazer. Tanto trabalhava no campo, como em limpezas, em várias casas. Mas havia um talento que viria a marcar muita gente da freguesia de Luso: Lucília era uma boa cozinheira. Lembra-se que cozinhou em muitas casas, fez muitas festas, muitos casamentos, e até chegou a ir, durante muitos anos, no verão, em colónias de férias, do dr. Artur Navega, da Mealhada, que, através de uma mulher de Barrô, a senhora Preciosa, levava as crianças mais pobres do concelho para a praia da Figueira da Foz.
Quando estalou a Revolução de Abril em Portugal, em 1974, Lucília estava, juntamente com a sua filha Natália, a empalhar garrafas e garrafões para várias grandes Caves Vinícolas da região bairradina, como por exemplo as Caves Messias. Trabalhavam na sua oficina cerca de 24 pessoas. Hoje só a sua Natália continua, como ícone, a mostrar uma arte em total desaparecimento.
Se por um lado guarda saudades desse tempo, por outro prefere os nossos dias. “isto hoje é uma maravilha, nem vocês sabem quanto!”, atira-me à queima-roupa, no meio de um sorriso escancarado de matreirice, com um brilhozinho nos olhos, intervalado com uma palavra obscena, tão apropriadas e ditas com a mesma naturalidade com que se diz “bom-dia!”.
Mas lembrando os tempos passados, endurecendo as linhas do rosto, referindo-se ao povo da aldeia, exclama: “é uma gente de merda, mesquinha, não valem nada!”
“Vê lá bem, continua a minha querida conterrânea Lucília, com a voz embargada pela dor, que há mais de 30 anos, quando eu mudei da religião Católica para os Evangélicos, praticamente toda aldeia deixou de me falar. Desprezaram-me completamente. Passavam por mim na rua e era como se eu fosse um cão. Um dia, já o meu querido “Zé Morais tinha morrido -o meu homem-, para matar a fome aos meus filhos, fui a casa de um grande lavrador para me vender meio alqueire de milho, e sabes o que me respondeu a mulher do ricaço? Que fosse comprá-lo aos da minha religião. Somíticos de uma figa!” Exclama no meio de uma imprecação.
Continua a senhora Lucília, “mas olha, Deus não dorme –apontando com o dedo em riste para cima-, o tempo tudo cura. Acabaram todos por me virem pedir ajuda. Fui eu, sem vinganças ressabiadas, que lhes matei a fome. Acredita, dou-te a minha palavra”, profere esta frase, já no meio de um sorriso, novamente.
Pois é! Como já viram estas palavras são de uma anciã muito querida que fará hoje, dia 19 de Novembro, 100 anos. Sim, um século.
Mas se vissem a sua pele do rosto, parece que tem sete décadas. A sua lucidez é impressionante. É impossível não gostar desta mulher.

Saiu-lhe!!!



"Não sei se, a certa altura, não é bom haver seis meses sem democracia, mete-se tudo na ordem e depois, então, venha a democracia"

Manuela Ferreira Leite

É preocupante ouvir nas ruas afirmações destas!

É dramático e revoltante ver a "líder" da oposição fazer estes comentários!

A má oposição dificulta o bom governo!

De pequenino é que se torce o pepino!!


"Há dezenas de escolas vazias, um pouco por todo o país. Os alunos estão em protesto contra o Estatuto do Aluno, nomeadamente quanto ao novo regime de faltas. O secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, diz que os estudantes "estão a ser manipulados"."




Pelas nossas escolas também as crianças do 5º e 6º ano fizeram greve!!!

Certamente também teriam arremessado ovos se a ministra visita-se o nosso concelho! Tudo isto no exercício da mais nobre democracia que a sua aprimorada consciência política lhes impõe!

É bom saber que as novas gerações estão no bom caminho da participação activa nas questões e decisões do país! Tudo isto será certamente resultado da isenta e desinteressada chamada de atenção por parte dos seus professores!



PS: Agora que penso nisto ficaram-me umas perguntas:

Quem terá pago os ovos e os cartazes????

Onde estavam os pais, professores e auxiliares quando estes alunos insultavam gratuitamente uma pessoa? Será que, por lhes dar jeito, se demitem de educar as nossas crianças?

terça-feira, 18 de novembro de 2008

O EXERCÍCIO DA DEMOCRACIA NO INTERIOR




“PSD/MEALHADA RETIRA CONFIANÇA POLÍTICA A DOIS VEREADORES”
“Alegando quebra de “solidariedade e lealdade políticas” o PSD/Mealhada anunciou a retirada de confiança política aos vereadores Carlos Marques e Gonçalo Breda” –Título e subtítulo do Diário de Coimbra (DC), de hoje, 18 de Novembro.

“Uma semana depois de já ter dado a entender que isso ia acontecer, a comissão política do PSD/Mealhada confirmou ontem a retirada de confiança política aos vereadores Carlos Marques e Gonçalo Breda Marques. Tudo por causa do caso “relatório José Calhoa”.
“Não existiu respeito, lealdade e solidariedade destes dois vereadores do PSD neste caso concreto”, referiu António Miguel, dirigente do PSD, ontem em conferência de imprensa. Explicando a situação, César Carvalheira, presidente do partido, deu conta que a Concelhia elaborou um relatório, que os vereadores apresentaram em reunião de câmara, onde o partido mostrava dúvidas nos negócios entre a autarquia e uma empresa propriedade do sogro do vereador socialista José Calhoa, e anunciando que iriam participar a situação à IGAL. “Não se revelaram solidários com o referido relatório, como tal não podemos manter a confiança política nestes vereadores, sublinhou” (César Carvalheira, aos jornalistas do DC).
Continuando a citar o jornal, Gonçalo Breda afirmou desconhecer o relatório em questão. Quanto ao vereador Carlos Marques diz o seguinte: “Respeito a decisão mas não a entendo (…) não encontro qualquer fundamento nessa decisão, porque sempre disse qual a minha posição no caso Calhoa ao presidente do partido, ao dizer-lhe que não partilho muito desta forma de fazer política, baseada na suspeição”.
Vamos por partes, começando por analisar o “Dossier Calhoa”. Recorrendo à leitura da acta nº 19, de 23 de Outubro, da reunião ordinária da Câmara Municipal da Mealhada, ficamos a saber que nesta sessão, dos três vereadores do PSD, estavam apenas dois, curiosamente, os suspensos da confiança política do partido, Gonçalo Breda e Carlos Marques. O terceiro vereador eleito, João Fernando Pires, nesta reunião do executivo, já não compareceu por ter apresentado um requerimento a solicitar a suspensão de mandato por 75 dias.
O vereador Carlos Marques apresentou um “relatório elaborado em conjunto com o partido que representa (PSD) sobre a existência de um eventual conflito de interesses entre as funções públicas desempenhadas pelo vereador Calhoa Morais e as que exerce na empresa fornecedora da Câmara, Fausto das Neves Carrilho”. Antes de passar à sua leitura “frisou não se rever no conteúdo do referido documento”.
O relatório apresentado pelo PSD, apelidado de “Dossier Calhoa”, no executivo camarário, e enviado à IGAL, Inspecção da Administração Local, é um extenso documento de várias páginas onde o partido Social-democrata expõe as suas razões, por si, consideradas conflituais entre interesses, privado e público, do vereador Calhoa.
Continuando a citar o relatório, o vereador Calhoa, eleito pelo Partido Socialista em 2005, exerce o seu mandato na Câmara da Mealhada a meio-tempo. A outra metade da sua ocupação é desempenhada profissionalmente na firma do sogro, que -e aqui reside o busílis da questão- é fornecedor da autarquia. Salienta-se que já o era no anterior triénio de 2003 a 2005. Acresce, segundo a óptica do PSD, e com provas apresentadas, solicitadas ao executivo de Carlos Cabral, presidente da Câmara Municipal, que neste período o montante dos fornecimentos foi de 8.159.08 euros. De 2006 até 26-08-2008 a conta-corrente da entidade fornecedora Fausto das Neves Carrilho Unipessoal, Lª era agora de 39.335.62 euros. Ou seja, segundo o documento apresentado pelo PSD, neste período, depois de ter sido eleito, em que o vereador a tempo parcial, e também assalariado pela firma citada, desempenhou as duas funções, houve um aumento de 482.10%. “Será fruto duma mera coincidência ou dum grande incremento das obras no município. Qual a resposta?” –interrogava o partido Social Democrata, pela boca de Carlos Marques, vereador daquele partido, na reunião do executivo.
Depois desta explanação vamos às interrogações. Pode o PSD, enquanto oposição na autarquia, pôr em dúvida esta distorção de valores? Pode e deve. Se tem razão ou não, isso é outro assunto. Apreciar o documento, julgar e sentenciar, dentro do procedimento administrativo, já é da competência de instâncias superiores criadas para o efeito dentro da Administração Pública. E, quanto a mim, não me parece que o facto de um partido da oposição pedir uma sindicância aos actos de um vereador em exercício, mesmo em “part-time”, signifique que o partido da governação considere indigno este procedimento e “ser uma maneira baixa de fazer política”. Qualquer membro do executivo deve saber que a qualquer momento, pode ser questionado, e escrutinado nos seus actos, enquanto administrador da res publica, pela oposição.
Passando ao facto do vereador Carlos Marques, antes de ler o documento, quase em nota de rodapé, sublinhar que não se revia no documento, quanto a mim, se, atempadamente, o manifestou ao presidente do partido, é legítimo lavrar em acta aquele desabafo.
Quanto ao vereador Breda Marques não se entende muito bem como é que afirma “desconhecer o documento”. Se desconhecia um relatório vindo do seu partido, significa que não está a desempenhar as suas funções públicas com a dedicação e entrega que se comprometeu a quem depositou nele a sua confiança, neste caso os eleitores que lhe deram o voto.
No tocante aos dirigentes do PSD, só posso lamentar a sua actuação. Quando é que os órgãos dirigentes partidários reconhecem os seus membros eleitos como pessoas pensantes, que podem e devem discordar das ordens recebidas, sobretudo, quando vão contra os seus imperativos de consciência? Porque é que, no caso da Mealhada, no lugar dos seus vereadores, estes dirigentes do PSD, não colocam computadores a quem, duma forma irracional, amestrada e fria, dão ordens para cumprir sem que estes as tenham de questionar?
Para mim, no meio desta inépcia e desvario total, tanto da oposição como do executivo de Carlos Cabral, apesar de meio perdido na confusão, o único que merece relevo, pelo seu sentido de missão, será Carlos Marques que, mesmo contra o seu conteúdo, assinou o documento. Caso contrário não seria possível apresentá-lo na sessão.
Quanto ao executivo de Carlos Cabral, enquanto gestor local eleito, parece esquecer que a qualquer momento pode ser examinado, tal como a mulher de César, mesmo parecendo, é preciso provar que é séria.
Termino parafraseando uma frase curiosa do documento emanado do Partido Social-Democrata mealhadense: “Obviamente não cabe ao PSD julgar as pessoas e os actos, cabendo-lhe somente alertar publicamente para as dúvidas que determinados actos provocam”.
Bem prega frei Tomás! Como explica a retirada de confiança política aos dois vereadores? Como “expilica”?!

domingo, 16 de novembro de 2008

Merecida homenagem a Maestro Joaquim Pleno, nome maior da música da nossa região que dedicou a sua vida à formação de inúmeras gerações de músicos e homens!

Com os olhos no futuro!


"Criada há vários anos, a EPVL tem desenvolvido esforços para acompanhar e satisfazer as necessidades do mercado de trabalho. Os cursos ministrados são ajustados à realidade e novos vão surgindo. Termalismo foi o que curso que se iniciou este ano."

In Diário As Beiras


Não é limpa mas é barata!


"A empresa Dourogás e a universidade de Vila Real vão dar início à construção da primeira central de biometano no país, um substituto do gás natural em todas as suas aplicações, anunciou fonte da academia transmontana.


...


O biometano é o resultado da limpeza e purificação do biogás, produzido em estações de tratamento de águas residuais, aterros sanitários ou resíduos pecuários, podendo substituir o gás natural tradicional em todas as suas aplicações."




Boa colaboração entre empresas e instituições de Ensino Superior!

É este o caminho!


Mas atenção que esta não é uma "energia limpa"!

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

QUE JUVENTUDE QUEREMOS?





Esta interrogação, que de milénio em milénio, continua e continuará sem resposta para os presentes e para os nossos descendentes. Com a responsabilidade a girar entre três pólos triangulares, Família, Estado e Sociedade, esta questão tem vindo a prolongar-se ao longo dos séculos.
Sócrates, filósofo ateniense, quinhentos anos antes de Cristo, na sua imensa sabedoria, afirmava que a excelência moral era uma questão de inspiração e não do parentesco familiar. Segundo este fundador da filosofia ocidental, por mais moralmente perfeitos que fossem os pais podiam não ter filhos semelhantes aos seus atributos morais e éticos.
Já no tocante à responsabilidade do Estado na formação educacional dos jovens, poderemos começar em Esparta, também na Grécia antiga, entre cerca de sete e cinco séculos antes de Cristo. O governo espartano tinha como objecto fazer dos seus cidadãos modelos de homens. Como soldados deveriam ser bem treinados fisicamente, onde a coragem predominasse, e, para além disso, deveriam ser obedientes às leis e à autoridade. A disciplina era condição “sine qua non” para ser bom cidadão, onde os seus direitos políticos, a sua intervenção na vida pública, dependiam directamente do seu “modus vivendi” disciplinar em sociedade.
As influências da sociedade na educação tomaram um novo rumo, passando a ser “caso de estudo” continuado, sobretudo a partir do Iluminismo francês, no século XVIII, nas questiúnculas travadas entre o genebrino, de antepassados franceses, Jaques Rosseau (1712-1778) e o Inglês Thomas Hobbes (1588-1679), no dissecar do empirismo materialista, na procura e defesa do culto da razão. O primeiro defendia que, nascendo puro e bom, o homem, na luta e procura obsessiva pelo interesse pessoal, era corrompido pela sociedade, que, trazendo ao de cima a sua competitividade animal, o embrutecia e o tornava cruel e mau.
Por seu lado, Hobbes acreditava que o homem, genético-hereditariamente, nascia mau. Na sua crueldade, “o homem chegava a ser lobo do homem”, onde prevaleciam os seus maus-instintos irracionais. Ao soberano (um século depois, Estado-Nação) a quem deveria deter todo o poder absoluto e centralizado, cabia-lhe, através da força normativa, “domar” os seus instintos e fazer dele um ser sociável.
A partir da Revolução Francesa, de 1789, no âmbito da “doutrina” iluminista, até ao primeiro quartel do século XX, a educação do homem assentou no sistema de pensamento da igualdade e liberdade, à luz da razão, seguindo a filosofia de Descartes, “pai” do racionalismo da Idade Moderna, e rompe quase com os princípios teocráticos.
A partir de 1922, com a subida de Mussolini ao poder em Itália, a Europa, exceptuando a URSS, através da sua revolução Bolchevique de 1917, inicia um movimento de corte em oposição ao liberalismo, ao socialismos e a qualquer forma de governo democrático: o fascismo.
Como num eterno retorno, a filosofia deste movimento, para além de outras, assenta num novo triunvirato: Pátria, Deus, Família. É ao Estado que compete a direcção de todas as actividades da nação. A educação, ainda que fortemente elitista, manipulada e inquinada com o sistema vigente, como baluarte da outrora disciplina espartana, é o “primus-inter-primus” do novo regime ditatorial que atravessa a Europa a seguir à primeira Grande Guerra, a depressão de 1929, e que, com o armistício da Segunda, alguns claudicam, nomeadamente Itália e Alemanha.
Por volta do terceiro quartel do século passado, com o cair de vários regimes autoritários, na Europa, entre eles Portugal, Conquista-se a democracia. Ou seja, envereda-se por uma nova forma de neo-iluminismo, um novo liberalismo, assente no individualismo, na igualdade de oportunidades, na laicidade dos Estados e…na economia de mercado.
Abandona-se a educação, enquanto premissa fundamental de uma Nação de direito, num mar de políticas ao sabor dos ventos e marés. O Estado, mais preocupado com direitos, liberdades e garantias e, sobretudo com a democratização de livre-acesso de todos ao ensino, básico e secundário, escamoteia as linhas mestras dessa mesma educação. Ao longo de mais de três décadas, num desnorte, aposta tudo na generalidade do conhecimento e saber intelectual dos alunos, em detrimento do adquirir saber na área profissional e, naquilo que é mais importante: a sua formação educacional e cívica, enquanto futuros cidadãos na sua correlação em sociedade.
Por outro lado, por incrível que pareça, vão-se arrogando direitos e mais direitos –sem a proporcional obrigação- aos filhos e alunos menores. Por antítese, vão-se derrogando (suprimindo) direitos aos pais e professores. E, para mais incrível ainda, aumentam-se-lhes as suas obrigações. Quase como uma paródia social, assistimos a miúdos, de menos de uma dezena de anos de idade, a ameaçar os pais de queixa à linha azul da protecção de menores. Nas escolas, como todos assistimos, vimos professores a serem agredidos física e verbalmente sem que nada, ou quase nada, para além da participação judicial, possam fazer.
Em conclusão, à pergunta “que juventude queremos?”, deixo a resposta a cada um que chegou até aqui.
Limitei-me a ir lá ao “fundo”, à história, para melhor se entender, depois, aparentemente, sem formar juízos de valor, tentei indicar as linhas condutoras que, quanto a mim, desde há mais de três décadas, através das políticas educacionais emanadas do Ministério da Educação, conduziram à juventude que temos.
Esta juventude, de hoje, é boa, é má, é melhor que a anterior, será pior do que a que esperamos no futuro? Não sei! Não escrevi este texto para dar respostas concretas.
Se ajudar alguma coisa, posso afirmar que estas questões, de que esta descendência actual é muito pior do que as ascendentes anteriores, em contínuo conflito de gerações, já vem sendo desvalorizadas desde o tempo de Sócrates, o “outro”, o filósofo, que existiu cinco séculos antes de Cristo.