segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

ENFIAR OU TIRAR A MÁSCARA?



Amanhã é terça-feira, dia de Carnaval,
não sei se tire ou afivele outra máscara,
ando tão mascarado que já não sei quem sou,
dizem-me ser natural, já ninguém leva a mal,
que o tempo longo da mentira a isso nos habituou;
Mas, às vezes, até me esforço, palavra, de verdade,
tento ser sério, dizer o que penso, sem aldrabar,
afinal é uma premissa da nossa liberdade,
não acreditam em mim, dizem que estou a brincar,
lá volto eu à falsidade dentro da legitimidade;
Olho à volta, vejo todos mascarados,
uns de bons pais, chefes de família, sorridentes,
outros de bons professores sem serem examinados,
vejo polícias, juízes, ministros e até presidentes,
todos são felizes nos papéis desempenhados;
Tiro a máscara ou mantenho a usual?
Se remover esta, logicamente, vai-me doer,
está colada à pele, de certeza que me faz mal,
fico outro, no espelho, não me vou reconhecer,
vou parecer um marinheiro perdido no areal;
E se eu enfiasse uma máscara de capitalista?
Enchia o peito de ar, não ligava à burguesia,
andava de bom carro, perdia este ar miserabilista,
comprava um avião, um barco e ia à maresia,
deixava de contar cêntimos como um contabilista;
E se eu escolhesse uma máscara de poeta sonhador?
Escreveria coisas bonitas, rimas que ninguém escreveu,
cantaria aos sete ventos a minha poesia como trovador,
gentes iam recitar os meus versos, mesmo quem nunca leu,
em qualquer parte do mundo, seria a chave do amor;
E o que é que eu faço à máscara que me faz feliz?
É certo que às vezes me decepciona, e sofro de solidão,
como consciência, faz-me pagar por erros que nunca fiz,
em arrependimento, de dor, faz sangrar o meu coração,
vou mas é ficar com esta, foi esta que sempre quis.

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