segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

MANUEL ALVES - O POETA CAVADOR

Que bonitas melancias
Tem aquela rica dama!
Por tanto bem que lhes quer
Deita-as consigo na cama.

É uma classe de semente
Que a mãe dela herdou da avó;
Guarda-as para ela só,
Não quer dar delas à gente.
São meias roxas na frente,
Na casca são luzidias;
Cobre-as todos os dias
Para o sol as não crestar;
Diz, quem para elas olhar:
«Que bonitas melancias!»

Quando passo à sua porta
Digo o que à mente me vem:
«Por alma da tua mãe,
Deixa-me ir à tua horta!»
«Eesta fruta não se corta,
- Ela em alta voz me clama:
A minha fruta tem fama,
Hei-de estimá-la por isso».
Melancias que eu cobiço
Tem aquela rica dama!

Não são das mais temporãs.
Mais serôdias também não...
Deus do Céu, como elas são
Tão bonitas e tão sãs!
São ambas duas irmãs,
Examine-as quem puder...
Esteja ela onde estiver,
De companhia ou sozinha,
Sobre o peito as acarinha
Por tanto bem que lhes quer.

Tem andado sempre unidas
Ao tronco em que nasceram,
Pelo muito que cresceram
Com o peso vão descidas.
São duas, mas divididas,
Cobrindo do tronco a rama.
É uma fruta que se chama
O manjar dos lambareiros.
Por causa dos ratoneiros,
Deita-as consigo na cama!

Sem comentários: