sábado, 7 de fevereiro de 2009

O JUMENTO DO ANO

(FRANCISCO LOUÇÃ, LÍDER DO BLOCO DE ESQUERDA)


Segundo o Sol Online, “Na sua intervenção da VI Convenção do Bloco de Esquerda, Francisco Louça propôs hoje a proibição dos despedimentos em empresas que tenham resultados” (…).
Disse mais: “Isto vai criar surpresa”, admitiu, justificando a proposta argumentando que é o Trabalho que cria riqueza e não o Capital. “Alguém já viu o Capital a produzir? Imaginem dois coelhos numa cova, de certeza que vão sair coelhinhos, mas se puserem duas notas de cem euros, imaginam que vão sair notas de vinte? O Capital nada faz. Agora é tempo de devolverem a quem deu a sua vida ao trabalho”.

Quem faz estas afirmações gratuitas e desconexas, conversa para “boi dormir” não é um político qualquer. É um homem que, para além de intervir legitimamente no espectro político, tem o dom da palavra, pela facilidade na criação de metáforas. Para além de tudo isto, aspira um dia a ser ministro. Mais ainda: é um reputado economista.
Ora, levando em conta os meus argumentos, exige-se deste líder partidário alguma seriedade nas suas explanações. O que assistimos aqui, neste seu discurso, é demagogia, burrice e o mais grave: é passar um atestado de menoridade intelectual a quem o ouve. Eu vou explicar melhor:
Vamos por partes: em relação à proibição de despedimentos em empresas que tenham resultados, o “camarada” Louçã esqueceu-se que vivemos numa economia de mercado, numa economia aberta. Das três uma: ou se esqueceu que fazemos parte da Organização Mundial de Comércio, em que as barreiras alfandegárias –para o bem ou mal- caíram, e os investidores nas suas deslocalizações e produtos circulam livremente no globo; que a gestão das empresas cabe aos seus legítimos proprietários e que abrir ou fechar, desde que assumam os seus compromissos com fornecedores, laborais e estatais, e não incorram em insolvências fraudulentas, é uma liberdade que lhes assiste. Pudera que não fosse assim; ou então, talvez absorto, numa viagem regressiva, pensou que estávamos numa economia centralizada e planificada, talvez nos anos de 1940 na ex-URSS, com Stalin e com uma pontinha fantasmagórica de Leon Trotsky.
Passemos à segunda afirmação do economista Louçã, em que é o Trabalho que cria riqueza e não o Capital.
Esta afirmação, vinda de um economista, é a frase mais burra do ano que poderia ir para o anedotário nacional.
Qualquer aprendiz de “economês” sabe que Capital e Trabalho são ambos factores de produção indissociáveis e ambos concorrem para a produção de riqueza.
Nos países em vias de desenvolvimento, ou mesmo desenvolvidos, porque o factor Capital seja mais escasso, num investimento, normalmente, começa por ser o factor trabalho o que tem maior preponderância. À medida que o negócio prospera, sabendo que o Capital ajuda a economia a crescer mais rapidamente, e procurando uma maior eficiência na produção, o investidor aumenta o factor Capital em detrimento do factor Trabalho. As consequências deste factor, quando levado ao extremo, pode ter consequências catastróficas para o emprego, mas isso é outro assunto.
Em suma, Francisco Louça valia mais estar calado.

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