terça-feira, 29 de abril de 2008

Queima das Fitas Tradição vs Respeito

Queria falar-vos de uma situação que me diz muito, da Serenata Monumental da Queima das Fitas...

Durante dois anos fui Presidente da Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra estando nesse período o mais dentro, que me era, possível da organização da Serenata Monumental em colaboração com a Comissão Organizadora da QF, por isso poderei dizer que sei alguma coisa do que se lá passa, dentro e fora do espectáculo que é o inicio da QF em Coimbra, que é o Espectáculo por excelência, que é o que de mais puro a par de alguns eventos tradicionais que se realizam dentro das festividades, não só por ser ali tocado o género musical que identifica esta Cidade, pelo facto de ali não se ligar à parte economicista inerente a uma festa com este peso, pelo simbolismo que acarta... entre muitas outras coisas que poderia passar a noite a enumerar!!!

Mas escrevo sobre um novo desafio, uma mudança que está prestes a acontecer, ou não... ou apenas futurologia...

Como qualquer mudança que se planei realizar, haverá sempre um coro de assobios que se negam a que se quebre o status quo e claro os mais radicais que sem quê nem porquê quererão quebrar com o que está feito... Claro está que esta luta de extremos nem sempre é benéfica, e muitos dos protagonistas de ambos os lados sofrem, muitas vezes, de "cegueira", ou por não entenderem que há ganhos e perdas nas mudanças ou por completo desconhecimento, querendo alterar algo que pouco ou nada se conhece... Há que entender que MUDANÇAS (se forem feitas de boa fé) envolveram perdas e ganhos, querendo-se que estes últimos superem os primeiros, para que assim valha a pena as realizar!

Como é conhecido (pelo menos da parte dos estudantes de Coimbra) houve alterações na estrutura da QF... alterações das datas de eventos, fruto de alterações no Código da Praxe que se queria actualizado e revisto à luz do Processo de Bolonha.

Mas indo directo ao assunto, e tentando não divagar mais...

Fui já várias vezes interpelado por pessoas ligadas à QF que me perguntaram o que pensava de se abrirem as portas do recinto da QF durante a Serenata Monumental, estando salvaguardada a transmissão em directo de áudio e vídeo da abertura solene da QF, garantindo também que nenhuma concessão venderia o que quer que seja até ao final da Serenata... Poderá parecer para alguns de vós uma questão menor, mas para os moradores do Edifício da AAC na rua Padre António Vieira isso não é bem assim, por várias razões... a Secção de Fado da AAC e a COQF nem sempre comungam de uma boa relação (e são tantos os motivos que seria extremamente cansativo estar a mencioná-los).

À primeira vista o que se poderá dizer é que querem acabar com o brilhantismo da Serenata Monumental e empurrar todos os estudantes para o recinto... com vista única e exclusivamente ao lucro, visto não haver entradas na Serenata, logo não há receitas, apenas encargos logísticos... Mas tal opção tem que ser logo riscada, porque estamos a falar de uma ideia vinda (pelo menos em parte) do Dux Veteranoroum, pelo menos pelo que me foi dado a conhecer, e visto este ser o responsável pela Praxe custa-me acreditar que queira logo acabar com o evento mais característico de Coimbra.

Do outro lado, vê-se um medo, algo justificado e compreendido com facilidade, de se poder perder uma parte do público que vai ver (ou pelo menos tentar) à meia noite nas escadas da Sé Velha as guitarras e os cantores...

Agora resta fazer um distanciamento... nem sempre é fácil, medir os prós e contras, ver no que se tornou a Serenata Monumental e qual o rumo que queremos que ela siga.

Para quem não saiba durante as horas que antecedem a meia-noite milhares de estudantes (e não estudantes, estando os primeiros em clara maioria) juntam-se num espaço que é visivelmente insuficiente... ou seja, muita gente para pouco espaço. Isto traz graves problemas de insegurança... Como garantir que numa situação de emergência se consiga evacuar o local, onde uma multidão se atropela sem que haja alarme, que um individuo que esteja no meio do largo da Sé para se deslocar um metro que seja tem que empurrar, furar por entre milhares de pessoas...???? Nada o garante, antes pelo contrário, é apenas um milagre que durante todos estes anos não tenha havido incidentes graves a registar...
Segundo ponto a registar é de que uma multidão como estas gera um barulho enorme... que por vezes com alguns excessos que há por parte de uma parte (cada vez maior) de público, nomeadamente a nível de consumo de bebidas, leve a que o espectáculo que está a decorrer fique para segundo terceiro, quarto, (...) plano! Não havendo respeito por esta tradição, pelos Grupos de Fado que tocam todo o ano com o objectivo de mostrar o que melhor sabem (e acreditem que é muito), pelo Fado de Coimbra, pela Cidade, que vê uma falta de respeito tão grande por aquilo que é o seu expoente máximo...

Com tudo isto, penso que o mais óbvio é que se comece a seleccionar o público, que se faça um estudo da capacidade que aquele espaço tem, para que assim não tenhamos que ouvir na abertura de um telejornal "Tragédia em Coimbra na abertura da Queima das Fitas", para que o evento seja valorizado, não apenas pela sua tradição mas pela sua qualidade, que por vezes é esquecida.

Mas isto não poderá ser feito de ânimo leve, sem que hajam algumas coisas a garantir, sim porque acredito também que uma tomada de uma posição sem que nada seja feito, não diria no sentido contrário, mas para que haja alguma compensação...
Falo num protocolo bem estruturado e transcendente a todas as COQF e Direcções da Secção de Fado, que contemple um esforço conjunto de divulgação do Fado de Coimbra e das Escolas da Secção de Fado que teria como seu público alvo Estudantes de Coimbra, primordialmente, mas também todo o país e estrangeiro, para que assim se consiga fazer sentir o peso que o Fado de Coimbra ainda tem nas comunidades portuguesas de todo o Mundo e não só, que não vêem a transmissão na televisão, que apenas passa Fado de Lisboa e Touradas... inadmissível!!!

O esforço conjunto é urgente devido ao novo paradigma que vivemos com a entrada em vigor do Processo de Bolonha que coloca os estudantes muito mais ocupados com os cursos e que os mantém muito menos tempo na Cidade, podendo ficar comprometida a criação de grupos de Fado (de estudantes entenda-se).

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