terça-feira, 24 de março de 2009

MADRE MIA (DIZ A CRIANÇA)




Esta mulher amamenta
uma criança adormecida,
estende a mão e acalenta,
talvez nem esteja sentida,
é a esperança que a sustenta;
Sinta bem o seu olhar,
perdido na imensidão,
parece nem se importar,
se é ou não provocação,
aquele alvo seio mostrar;
“Ajude”, parece dizer,
em ladainha estudada,
talvez choque quem ver,
aumentando a passada,
olhando o céu sem querer;
De onde virá, que faz aqui?
São interrogações a mais,
num quadro que só por si,
misturado com os demais,
deveria envergonhar aqui;
Condenamos a mulher-mãe?
por usar aquela criança?
Ou tentamos ver também
uma réstia de esperança
a "ninguém" que quer ser alguém?

2 comentários:

Anónimo disse...

É visível que fome esta senhora não passa, nem tem cara de ter doença! Não concordo com esta forma de fazer face à vida. Uma pessoa que se sinta digna, mas que está a atravessar um mau momento na vida, tem todo o direito e o dever de recorrer a ajudas institucionalizadas. No caso de não obter resposta deve por todos os meios possíveis fazer denúncia. Ir para a rua com um filho nos braços para apoquentar as consciências dos transeuntes, isso é que não! Porque a vida custa a todos! Há uns tempos trabalhei em turnos, havia uma semana em que tinha de acordar cerca das três da madrugada e saía do emprego às 13,00H. Desde criança sempre tive dificuldade em conciliar o sono, há em mim uma tendência natural para me deitar tarde e acordar tarde, logo trabalhar por turnos era uma brutalidade a que me encontrava submetida. Para me levantar às três da madrugada e para dormir o suficiente teria de ir para a cama ainda com sol, ora, uma situação que ia contra a minha natureza. A maior parte das vezes nem sequer dormia. De maneira que quando saía do emprego até vinha doida e com uma brutal bebedeira de sono, não pensava correctamente, via mal, enfim tudo mau. A caminho de casa, costumava parar num supermercado para me abastecer de algumas coisas necessárias, o pão por exemplo. À entrada do estabelecimento, invariavelmente, encontravam-se algumas destas pessoas que vivem do vício da pedinchice, mão estendida e filho à ilharga. Bem, eu nem sei o que sentia! Vi-as ali fresquinhas e bem dormidas, mal trajadas, é certo, mas de aspecto radioso, enquanto eu tinha feito o supremo sacrifício de sair da minha confortável caminha de madrugada para enfrentar o dia de trabalho, sentia um caco, um farrapo humano, tão desfalecida que o mais pequeno piparote seria o suficiente para me derrubar ao chão! Que espera, caro senhor, que dissesse a quem me estendia a mão suplicando uma esmolinha? Correndo o risco de parecer ter um coração cruel e empedernido digo a verdade, porque nem admito outra coisa, sempre fui capaz de fazer peito às consequências das minhas acções, não é agora, nesta altura do campeonato que tem sido a minha vida, que vou desistir de ser quem sou. Pois bem, olhava a pessoa bem nos olhos e dizia-lhe - precisas de dinheiro? Então vai vergar a mola... O mesmo é dizer vai trabalhar...

LUIS FERNANDES disse...

Se calhar vai ficar surpreendida: concordo consigo. Parece que esta minha concordância, perante o que escrevi, não faz sentido, mas vou ver se consigo “safar-me” desta “encrenca” que provoquei.
É assim, primeiro, no que digo em “poesia” nunca sei o que vai sair. Pego numa imagem, escrevo a primeira frase –daqui parte tudo- e vou escrevendo com coerência, mas tendo em atenção o que foi o início. Isto quer dizer que dessa primeira frase posso ir para a esquerda ou direita. Ou seja, perante uma imagem, como é o caso, nunca sei o que vai sair. Não sei se fui suficientemente claro, mas é a verdade.
Depois, vamos á segunda explicação. Eu sou um escritor de trazer por casa –já devia ter visto- sou viciado a escrever, mas para além deste blogue –o Burriqueiro- e do www.questoesnacionais.blogspot.com, e de umas quantas crónicas em jornais, nunca publiquei nada. No entanto, pobrezinho mas muito responsável. O que quer isto dizer? Isto: que tudo o que escrevo deve ser feito com espírito de missão. O que quer isto dizer? Volta a interrogar? Que tudo o que escrevo deve ter sempre presente dois princípios: o da responsabilidade e, tão importante como este, o que me sai da pena (ou da mente) deve, por um lado, fazer pensar quem lê e, por outro, servir de exemplo para alguma coisa. Posso até defender o indefensável…mas justificar sempre.
Bom!, não sei se descalcei a bota. Que tentei…tentei…