sexta-feira, 20 de março de 2009

A VOZ INCÓMODA




Depois dos ciganos de Barcelos, aí está outra controvérsia, agora em torno de um anúncio da Antena1, em que aparece uma grande fila de carros parados e alguns a tocarem a buzina. Dentro de uma viatura, um condutor ouve Eduarda Maio –autora do livro “Sócrates: o menino de ouro do PS”, a biografia autorizada do primeiro-ministro, lançada em 2008-, uma jornalista daquela estação de rádio pública, dizer que “daqui a pouco, vamos em directo para o Parlamento, vamos acompanhar o debate, desta tarde, na Assembleia da República. São agora 11,23. Uma informação de trânsito…”
A seguir, Eduarda Maio entabula uma conversa em directo com o condutor:
-Ó Rui, não vale a pena ir por aí, está cortada a rua…
-Não acredito! Outro acidente, Eduarda? –pergunta exasperado o chouffeur.
-Não. É uma manifestação, responde a jornalista.
-E desta vez é contra quê? –interroga o condutor.
-Bom, pelos vistos, é contra si, Rui! –conclui Eduarda Maio.
-Sim, sim… contra mim! -desabafa o condutor, parecendo não acreditar.
-Pois! Contra quem quer chegar a horas –remata a jornalista.
Seguidamente aparece o Spot publicitário, com uma voz masculina de outro jornalista: “Quem nos diz tudo sobre a actualidade, diz-nos muito. Antena 1, liga Portugal”.
Segundo o jornal Público online, o PSD, perante este texto publicitário, pediu hoje a demissão da direcção da Antena 1 “devido ao “Spot” publicitário de promoção à informação da rádio, que considera “atentar contra a liberdade de expressão e de manifestação”.
Salienta-se que o Spot publicitário mereceu igualmente críticas da restante oposição.
Continuando a citar o Público, “O “Spot” também vai motivar uma queixa da CGTP ao Conselho de opinião da RTP (…). O PCP admite, ainda, chamar ao Parlamento a administração da RTP se não for retirado o anúncio (…), que descreve como uma “ofensa” a “um direito fundamental” –o direito à manifestação.”
Não deixa de ser irónico que, passados quase 35 anos, os partidos políticos, auto-apelidando-se de progenitores da democracia –e sobretudo o PCP- tratem este sistema político -em que a autoridade emana do conjunto dos cidadãos, baseando-se nos princípios de igualdade e liberdade- ao sabor das suas conveniências. Aparam a democracia consoante o jeito que lhes dá, e como se esta fosse imberbe, nunca crescesse. Os partidos, certamente, pensam que as pessoas serão tolas e não têm cabeça para pensar. A sua hipocrisia é tão grande que nem a chegada da primavera, com os seus odores a flores, consegue disfarçar o cheiro a mofo que empesta o ar.
Ficam duas perguntas a balouçar no éter: Quem atenta contra a liberdade de expressão?
E se, por acaso, a voz, em vez de ser de Eduarda Maio –que escreveu a biografia de Sócrates- fosse de uma qualquer outra jornalista, teria desencadeado a mesma reacção partidária?

1 comentário:

Anónimo disse...

A publicidade melhor conseguida é, sem dúvida, toda aquela que se apoia nas cenas mais evidentes do quotidiano.Não é preciso rebuscar muito, basta olhar em volta, basta, também, ter a sensibilidade suficiente para conseguir captar o sentimento mais generalizado do tempo actual. Ora, o que tem estado na ordem do dia, na verdade, são as manifestações, greves e diversas contestações de carácter político, etc. Sendo assim, é normal que se aproveite o boneco, quer para construir publicidade quer para fazer humor, para certos programas que vivem da sátira. Não vejo razão para o empolamento deste caso! Qualquer coisinha hoje é notícia. Uma paneleirice qualquer enche páginas de jornais! Estamos mesmo em crise! Ultimamente tudo serve para atacar este governo. Com a economia do mundo inteiro de pantanas,querem-nos fazer crer que Sócrates é o principal responsável pela situação precária do nosso país. Mas atenção - tudo isto não passa de um golpe baixo, que se traduz numa grave falta de respeito pelos portugueses, porque não é verdade, antes fosse... Trocava-se de governo e ficávamos todos ricos, todos a viver um oásis de abundância! Infelizmente a realidade é bem amarga! Não vamos lá com pachos e panos quentes. É preciso trabalhar e sobretudo mudar esta mentalidade comesinha, pequenina e miserabilista.