sábado, 25 de abril de 2009

HOJE É O DIA 25 DE ABRIL




Dando uma volta pelos blogues aqui ao meu lado, fico um pouco constrangido. Os conotados com a esquerda, homenageiam e elevam os homens que fizeram o 25 de Abril, independentemente do que vieram a fazer a seguir. Os simpatizantes da direita, chamam a alguns destes heróis da revolução dos cravos desde assassinos a cobardes.
Que diabo, como não tenho simpatia nem para uns nem para outros e não sei onde me colocar. Talvez o centro, como fiel de balança –e neste caso seria muito cómodo para mim-, resolvia-me parcialmente a questão. O problema é que nunca gostei de ambiguidades, e neste caso, o centro, para além de ser ambíguo é também bipolar, tem um braço e uma perna na direita e os outros membros na esquerda. Então como é que resolvo isto com alguma racionalidade e objectividade?
Para mais, para suprema ofensa da esquerda, presumo, estou a trabalhar hoje, quando a maioria está a gritar loas à origem do feriado. Ontem, quando conversava com um amigo e colega comunista, quando lhe disse que trabalhava hoje, com grande grito de revolta, saído lá das profundezas, exclamou: “o quê, trabalhas no dia da Revolução?! Fogo, a mim, para trabalhar neste dia, nem que pagassem milhões!”
Engraçado é que, para mim, o dia de hoje é apenas um marco assinalado na história de Portugal. E nada mais. Tal como foram datas importantes para o país, como por exemplo, o 1º de Dezembro de 1640 –com a Restauração da Independência e expulsão do reinado dos Filipes de Espanha- ou o 5 de Outubro de 1910 –com a queda da monarquia e implantação da República.
É verdade que em Abril de 1974 eu tinha apenas 18 anos e nenhuma cultura política. Já trabalhava há quase 8 anos. Enquanto eu fui infante, os meus ascendentes andavam tão preocupados com o pão para a boca que sabiam lá eles que havia oposição a Salazar.
O dia da Revolução de 25 de Abril veio apanhar-me a vender trapos numa grande loja da Baixa de Coimbra e hoje encerrada. O patrão, que subira a corda da vida a pulso, nesse dia, se ficou preocupado não o demonstrou. No dia seguinte, quando começaram as manifestações de rua, perante os seus cerca de 15 empregados, tratou de fazer sessões colectivas de esclarecimento político e clarificar que ali, na sua loja, era ele que mandava. Portanto, partido, a haver, teria de ser o PSD ou o CDS. Estas formações político-partididárias é que eram boas. Eram as únicas que defendiam a iniciativa privada. Os outros, e sobretudo os comunistas, “comiam meninos ao pequeno-almoço”.
Fosse por isso ou por outra coisa qualquer, a verdade é que até hoje nunca fui a nenhum comício partidário. Dos 18 aos 25 anos que trabalhei naquela grande firma, fui tentando fazer a minha destrinça entre o comportamento do patrão de direita e outros que haviam na Baixa e que eram assumidamente comunistas. Nunca cheguei a nenhuma conclusão clarificadora de qual deles seria melhor. Aliás, sempre encontrei grandes similitudes na sua forma de proceder. Nunca vi um comerciante comunista distribuir, fosse o que fosse, da sua riqueza, por quem mais precisava. No da direita, igualmente, o que via era que tentava enriquecer o mais possível. Ao mesmo tempo, na firma onde trabalhava, apercebia-me, havia uma “utilização” abusiva dos trabalhadores. Todos trabalhávamos mais para além do horário, diariamente. Em vez de 30 dias de férias eram apenas gozados 15. É certo que no fim do ano todos levávamos um “cheque-bónus” pela lealdade e bom comportamento.
A única diferença que eu notava, quer no comerciante de direita, quer no de esquerda, era o ódio que cada um nutria ao outro. Um era apodado de fascista salazarento, o outro de vermelho ao serviço de Moscovo.
Nesta loja onde trabalhei 9 anos, fui continuando sem manifestar nenhum pendor político-partidário. Mas há uma história engraçada que nunca me esqueci. Em 1975, com 19 anos de idade, tinha as minhas férias marcadas antecipadamente como era norma. Tinha tudo programado para as iniciar na data acordada. Na véspera, o gerente da loja comunica-me o cancelamento das minhas férias previamente anunciadas. Mandei-me aos “arames” e, no meio de uma discussão, disse-lhe que nem pensar. Ia e ia mesmo. Quando chegou o patrão, a mesma coisa. “Não senhor, que não podia ir e pronto!”, verberou o velho comerciante. Então, irritado, interroguei: o senhor pensa que nós somos carne para canhão? O homem, espavorido, olhou-me fixamente, começou a andar à minha volta e a soletrar como um disco riscado: “é comunista! Ele é comunista! Eu tenho um comunista na minha casa!”
Na noite anterior eu estivera a ler a 25ª hora, de Virgil Gheorghiu, e não dormira. Foi a noite toda em claro a ler o livro que até hoje mais me entusiasmou sem conseguir descolar. Uma das frases que memorizara foi exactamente “carne para canhão”.
Esse acontecimento passou e, tenho a certeza, que apesar da minha rebeldia, o velho comerciante, deixou passar. Despedi-me com 25 anos de idade, por minha iniciativa. Bem que ele tentou que eu não o fizesse, com toda a honestidade.
A partir daí, nunca me interessei muito pela política partidária, embora, diga-se, sempre tentei saber tudo o que se passava à minha volta. O mesmo se passa com o futebol. Não gosto do desporto-rei, e não tenho qualquer simpatia por este ou aquele clube, mas aqui, neste desporto, nem me interessa saber. Como se isto fosse pouco sou agnóstico. Já vêm, somando estas parcelas, que sou muito pouco ortodoxo. Sou um desalinhado totalmente do sistema social. Ah…mas esqueci-me de dizer que gosto de fado, o que já não é de todo mau. Do aforismo Fátima, futebol e fado, vá lá, sempre se aproveita o fado!
Ora, como vêm, regressando ao início do texto, estou muito preocupado. Num país em que toda a gente gosta de futebol e tem um partido político de eleição, eu, sendo diferente para pior, está de ver, das duas uma: ou sou um nacionalista de “carregar pela boca”, ou então sou um comunista renegado da pior espécie. Ou seja, acabo por ser um mal-amado por uns e por outros, perdido neste universo homogéneo e unanimista que é a nossa sociedade de consumo político-partidária.
Sou uma espécie de alma esvoaçante, que numa equidistância intencional ou desligada do aparelho “religioso” anda à procura do seu deus terreno.
O que hei-de fazer? Já pensei em fazer terapia partidária, ou então, se esta não resultar, hipnose por regressão. Há qualquer coisa que não bate certo…

1 comentário:

Milu disse...

Tinha 13 anos quando aconteceu o 25 de Abril. Em minha casa o rádio emitia constantemente o "Grândola Vila Morena" e outras cantigas de intervenção. Ouvia os meus pais conversarem e discutirem a liberdade e o fascismo, mas não acredito que eles soubessem o que estavam a dizer. Nem tão pouco acredito que alguma vez se tenham apercebido das consequências do regime fascista, ou o que significava a liberdade, à semelhança de tantas outras coisas, das quais tenho a certeza, que desconheciam. Por mim posso dizer que tudo isso me passou ao largo, com a idade que tinha havia, porventura, outros interesses, que chamavam mais a minha atenção, e ainda bem.

Lembro-me das manifestações de rua, de ver pessoas conhecidas a agitar bandeiras e a gritar a plenos pulmões, "O povo unido jamais será vencido". Vociferavam contra o patronato que os explorava, e " Abaixo os patrões". Um dia ouvi o meu pai dizer à minha mãe, que parte dessas pessoas que passeavam bandeiras vermelhas e de foice, se estivessem na pele dos patrões, eram bem capazes de fazer pior que eles! Pode cair-me o Carmo e a Trindade em cima, mas, afirmo veementemente, que penso, que o meu pai não era parvo nenhum, porque o que disse é verdade! Até eu penso assim!

O ano passado trabalhei sábados e domingos. Trabalhei no dia 1º de Maio, no dia 25 de Abril, na sexta-feira santa e sei lá que mais! E toda contente, bom jeito me fez o dinheirinho que levei para casa, porque não é a descansar que governo a minha casa. E não me venham dizer que sou de direita nem merda nenhuma, o que quero é trabalhar e ganhar o meu dinheiro! Quem não quiser trabalhar estabeleça-se por conta própria, que logo vê como é que elas mordem. Já agora o meu eleito é Sócrates, ele é o meu Obama! Assumo tudo aquilo em que acredito, senão,
não sou mulher nem sou nada, passo a ser uma coisa amorfa... Uma ameijoa mole!
Um abraço!