sábado, 8 de março de 2008

Sinceridade ou tiro no pé?


«Com uma sinceridade única na história portuguesa, Luís Filipe Menezes anunciou que o PS "já não merece ser governo", mas que o PSD "ainda não merece ser governo". Isto, segundo o dito Menezes, cria um "paradoxo" ou, noutra variante, "um vazio" que ele acha "complicado". Como o país começa a perceber, um "vazio complicado", pelo menos, cria. Infelizmente, o admirável pensador de Gaia não explica, e nunca explicou, por que razão o PSD, de que é o máximo responsável, "ainda não merece ser governo" ou como tenciona ordenar, reformar e tornar elegível (e respeitável) o partido que ele próprio desorganizou e ridicularizou. O segredo da ressurreição do PSD continua imersa nas brumas da sua cabeça, enquanto ele se agita absurdamente por aí.
Com quase sete anos de estagnação económica, Portugal passa pela pior crise doméstica desde o fim da II Guerra Mundial e nada permite esperar um alívio rápido com a ajuda da "Europa" e da América. Pelo contrário, as dificuldades da Espanha, de que dependemos pesadamente, podem provocar aqui um pequeno desastre. Nesta verdadeira emergência nacional, com o Estado Providência degradado e falido, Luís Filipe Menezes resolve declarar (alega ele que por "humildade") que o PSD não sabe o que deve ou não deve fazer e não tem gente de qualidade e confiança para tomar conta das coisas. Talvez se pense que esta confissão bastava para o desautorizar e o remover instantaneamente da presidência do PSD. Engano. A singularidade indígena engole tudo.
Um homem vem à cena e reconhece: "Sou o chefe da oposição e não existe oposição. Sou um chefe de um partido sem programa e sem pessoal. Se amanhã me nomeassem primeiro-ministro, recusava ou, se aceitasse, aceitava por desonestidade ou inconsciência e levava com certeza o país para uma grande "desgraça". E o que sucede? Sucede que o PSD se cala; mesmo Santana Lopes. Sucede que este jornal publica a notícia na página 12 e o Diário de Notícias na página 17 (porque a concorrência publicou antes?). Sucede que Sócrates não abre a boca; e o PS também. E sucede que o dr. Cavaco não considera o caso digno da sua intervenção, apesar da gravidade do "vazio" de que Menezes fala e confirmou. Pior do que isso: os portugueses riem, com alegria e gosto. Sempre nos sai cada um, não é?»



Vasco Pulido Valente In Público (assinantes)



Concordo plenamente com a análise política das afirmações de Menezes e aproveito para acrescentar mais uma avaliação de Vasco Pulido Valente, também ela no Público:
"Luís Filipe Menezes não passa de um cacique, entre caciques. Não lhe obedecem e não o respeitam(...) Da cabeça dele sai o que sai, para grande alegria da gente que no PSD o detesta e grande conforto da gente que no PS o acha um milagroso aliado.".
Penso que está uma excelente descrição de alguém que chegou ao "poleiro" do seu partido mais por intriga e promessa de interesses do que por mérito e que é claramente um "líder de ocasião" sem futuro e em quem muito poucos acreditam.
Ficam-me algumas questões. Como estará a sua equipa em termos anímicos? Será que Santana Lopes ainda é um aliado? Será que da sua posição de tribuno não estará a planear um regresso? E qual será a situação de Ribau Esteves? Não estará do lado errado da barricada? Não estará a pôr em causa o seu futuro político? A sua personalidade naturalmente polémica e esta associação a um projecto "nado-morto" não auguram nada de bom para um precurso que prometia ser fulgurante.
Resta-nos esperar por Rui Rio para que Portugal possa ter uma oposição credível ao governo, condição fundamental para o seu crescimento.

Quanto à análise da situação económica penso que não devemos dramatizar, apesar da situação da Espanha ser preocupante. Deixo esta avaliação para outro post mais fundamentado.



PS: Qual será a opinião de Miguel Esteves Cardoso??

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